A execução dos três ortopedistas em um quiosque na Barra da Tijuca, no Rio, é bastante emblemática. Primeiro, por que ocorreu em uma área nobre, em frente a um dos hotéis cinco estrelas mais badalados da capital fluminense. Outro ponto é que o modo de ação dos criminosos apresenta as digitais do crime organizado que toma conta de áreas da outrora Cidade Maravilhosa, com ação em grupo e disparos sucessivos de arma de fogo — foram, ao menos, 33 tiros. E, por fim, a conotação política que margeia o caso. Uma das vítimas é Diego Ralf Bomfim, irmão da deputada federal Sâmia Bomfim (PSol-SP) e cunhado do também deputado Glauber Braga (PSol-RJ).
Claro que é prematuro e leviano cravar que os assassinatos tiveram motivação política. Como Sâmia Bomfim revelou que a família vinha recebendo ameaças de morte por e-mail, é uma linha de investigação que não pode ser afastada e merece ser aprofundada. Tanto que a Polícia Federal e investigadores da Polícia Civil de São Paulo vão acompanhar as apurações feitas pelos agentes e delegados do Rio. Com todo o quadro de polarização política que vivemos nos últimos anos, é preciso tratar o tema com muita cautela.
A outra linha de investigação da Polícia Civil do Rio também choca pela frieza como agem os criminosos no Rio. Uma hipótese que ganhou força entre os agentes é de que traficantes tinham como alvo um miliciano, da região de Jacarepaguá, que se parece com uma das vítimas, o médico Perseu Ribeiro Almeida — as imagens da câmera de segurança mostram que é possível ver um dos atiradores voltando para conferir se o ortopedista tinha sido mesmo baleado. Se foi isso que ocorreu, é triste constatar que o crime organizado promove execuções por engano, sem qualquer poder de reação do Estado.
É fundamental que a sociedade civil tenha respostas rápidas sobre o que ocorreu na Avenida Lúcio Costa. Não dá para ser como um outro caso Marielle Franco, executada a tiros em março de 2018, com uma investigação que se arrastou por anos a fio e só começou a ficar mais nítida com a delação premiada do ex-PM Élcio Queiroz. Em acordo fechado com o Ministério Público do RJ e a Polícia Federal, ele acusou o ex-policial reformado Ronnie Lessa de realizar os disparos contra Marielle e o motorista Anderson Gomes naquela noite.
Assim como é sempre importante lembrar que a chaga da violência está espalhada pelo país. Ontem, seis pessoas de uma mesma família foram mortas em uma chacina em Jequié, a 370km de Salvador. Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública apontam o município do interior baiano como a cidade com maior média de mortes violentas proporcional à população, em 2022, com 88,8 casos fatais a cada 100 mil habitantes. É muito triste viver num país que diariamente conta centenas de mortes civis provocadas por armas de fogo.
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