MEIO AMBIENTE

Artigo: Marketing verde do governo federal tem de convencer para dentro

Embora o governo tenha registrado uma queda de 48% no desmatamento da Amazônia, nos primeiros oito meses do ano, as queimadas não foram contidas

AMOM MANDEL, deputado federal (Cidadania-AM)

O Brasil tem tomado o rumo correto nas declarações internacionais referentes ao meio ambiente. Correções a respeito de compromissos climáticos e dados verdadeiros sobre a situação dos diferentes combates a crimes na área ambiental dão um ar de que dias melhores estão por vir e que nossa natureza única irá prosperar.

No entanto, para chegarmos às metas estabelecidas pela ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas (MMAMC), Marina Silva, na Organização das Nações Unidas (ONU), de diminuição das emissões de gás carbônico para 48% até 2025 e para 53% até 2030 —, o país deverá urgentemente se voltar para o engajamento de todas as esferas de poder. Com ênfase nos estados e municípios.

Enquanto o ministério anuncia que diminuiu em 48% o desmatamento nos oito primeiros meses de governo, Manaus, a capital do Amazonas, de onde venho, esteve encoberta por fumaça. Isso aconteceu por 10 dias consecutivos, sendo o pior no dia do discurso da ministra, na quarta-feira passada (20/9). O motivo? Queimadas. O mau cheiro não engana, nem a temperatura.

No anúncio da Defesa Civil do Amazonas em meio a situação, foi evidenciado que entre 12 de julho e 11 de setembro, houve o registro de 1.057 focos de incêndio na capital e no interior. Porém, meu estado não foi o único. No final de agosto, Rondônia, que também é parte da Amazônia Legal, ficou encoberta por um nevoeiro. Nesse dia, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou 108 focos de queimadas na região.

Um estudo produzido pelo jornal The Washington Post e pela ONG Carbon Plan afirma que Manaus será uma das cidades mais quentes do mundo em 2050, se seguir esse padrão. O aumento da temperatura mundial fará com que cerca de três bilhões de pessoas sejam expostas ao calor extremo. A população manauara será parte dessa estimativa, com 258 dias no ano de muito sol. E nós sabemos todas as mazelas que ocorrem quando temos essas mudanças drásticas, certo? Vivenciamos uma seca histórica, que se prolongará e afetará os 62 municípios amazônidas. Já são 32 cidades em atenção, 17 em alerta, 10 em emergência e apenas três estão normais. A previsão é de que 500 mil pessoas sejam afetadas até o final de outubro.

Além disso, desde agosto, a poluição no ar de Manaus tem causado incômodo. Na quarta-feira (20/9) da semana passada, o mapa em tempo real Valores do Índice de Qualidade do Ar (IQA), por volta de meio-dia, apontou 166 para Manaus, o que deixou a marcação entre as piores do mundo. Estava quase impossível respirar nas ruas.

Uma pesquisa do Instituto Action, a pedido da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), indicou que 94,1% dos amazônidas acreditam que incêndios florestais impactam negativamente a qualidade de vida. Quando essa consulta é estendida aos nove estados da Amazônia Legal, são 83,2% que concordam que as “queimadas na floresta impactam negativamente na minha saúde e na saúde da minha família."
Pôr fogo na floresta é um prejuízo à saúde de quem mora nela ou nos seus arredores. Impacta mais pessoas com comorbidades ou em vulnerabilidade social. E a maioria desses cidadãos utilizam serviços públicos de saúde, o que pode levar a uma sobrecarga. Ficou claro a avalanche que ações no meio ambiente podem causar?

Por isso, não podemos ter governos omissos e negligentes com esse tema. Se o governo federal tem voltado os olhos para o desenvolvimento sustentável do nosso estado, os gestores nas bases devem estar atentos nas construções das pontes de conexão. A população que habita a Amazônia Legal clama por mais ensino sobre o território nas escolas (87,4%) e por leis mais severas contra o desmatamento (79,9%), esses são dados colhidos na pesquisa Eleições 2022 na Amazônia. Nós somos representantes desses cidadãos nos espaços de poder, então devemos escutar seus pedidos.

Precisamos combater ativamente o desmatamento, diminuir o uso dos combustíveis fósseis, gerar renda para a população, principalmente para os jovens dos interiores da região Norte, entre outras soluções eficientes e imediatas. Isso deve acontecer com união. E deve seguir assim até que o quórum de pessoas que enxergam alternativas para o desenvolvimento na Amazônia aumente (35,6%, de acordo com a FAS), em conjunto com a quantidade de cidadãos que acreditam ser possível gerar emprego e renda na Amazônia sem desmatar. É preciso levar medidas mais próximas à realidade do povo amazônida para que enxerguem as mudanças. Não adianta só fazer promessas e ter boas intenções, porque fome, educação e saúde não esperam.

Mais Lidas