Duas pesquisas divulgadas recentemente mostram que a autoimagem está intimamente ligada ao bem-estar emocional das pessoas, assim como estereótipos de beleza são cada vez mais marcados como padrões. Embora conceitos como diversidade, inclusão e quebra de tabus sejam reforçados em grande parte por grupos minoritários da sociedade, a aparência ganha cada vez mais relevância, afetando em cheio nossos adolescentes e jovens, além de mulheres e o público LGBTQIAPN+.
A começar pelos adolescentes e jovens, a Pesquisa Nacional de Saúde Infantil, divulgada pelo CS Mott Children's Hospital, da Universidade de Michigan Health, nos Estados Unidos, publicada no final de 2022, aponta que dois terços dos pais dizem que os filhos são inseguros sobre algum aspecto da aparência e um em cada cinco diz que seus adolescentes evitam situações em que se considerem expostos, como, por exemplo, estar em fotos. O levantamento contou com a resposta de 1.653 pais com, pelo menos, um filho com idade entre oito e 18 anos.
Aspectos como o peso corporal, o visual dos cabelos ou da pele (acne) estão entre os fatores mais comuns de insegurança, bem como a estatura (baixa ou alta demais), características faciais ou vergonha dos seios (obviamente, no caso das meninas). A pesquisa mostra também que o excesso de preocupação com a aparência ou insatisfação corporal pode levar a uma autoimagem equivocada, além de impactos quanto à saúde mental, aumentando assim o risco de problemas como distúrbios alimentares (bulimia, anorexia ou obesidade), depressão e baixa autoestima.
Outro estudo — “(des)Encanto: bem-estar e o impacto das marcas em um mundo imprevisível” —, divulgado pela MindMiners, plataforma que combina expertise em pesquisa, tecnologia e inteligência de dados, contou com 2 mil respondentes de todo o país e apresentou resultados sobre bem-estar e saúde. Entre as respostas obtidas no estudo, 65% dos entrevistados afirmaram que não estão completamente satisfeitos com seus corpos, sendo que a maioria desse percentual é composto por mulheres, geração Z (nascidos entre 1997 e 2010) e público LGBTQIAPN+.
Para a CEO da plataforma, Danielle Almeida, o fenômeno de distorção da imagem está se tornando prevalente, especialmente entre os jovens, e muitas vezes é exacerbado não apenas pelo uso de filtros, mas também devido ao conteúdo amplamente divulgado na internet, que incentiva a busca pela perfeição e as comparações incessantes, “o que pode ser implacável”. Não é à toa que, especialmente nessa fase, os jovens manifestem condições como anorexia, bulimia, obesidade, síndrome do pânico, ansiedade, entre outros, chegando até a ideações suicidas.
O estudo levanta a questão de como trazer de volta o “encanto perdido” e a importância de começar esse trabalho de forma individual, e, posteriormente, em grupo. Cuidar do corpo e da mente deixa de ser um discurso teórico e passa a se revelar como uma ação fundamental para se conquistar uma vida equilibrada e plena. Nesse contexto, além do núcleo familiar, é fundamental que profissionais de educação estejam atentos e aptos a darem o suporte necessário ao jovens. Melhor ainda se puderem contar com o suporte de políticas públicas voltadas à saúde mental, tema que tem cada vez mais despertado a atenção da sociedade.