JOSÉ NATAL, jornalista
Dias atrás , aqui mesmo nas páginas do Correio, o brasiliense leu, com espanto, matéria sobre a nossa desastrosa realidade no convívio diário com o caos do nosso trânsito. E o que é pior, nenhum sinal de melhores dias a curto prazo. Congestionamentos, acidentes, multas, brigas, obras mal programadas e vários outros pontos negativos na prancheta de um Detran autoritário e pouco eficiente.
A dura realidade é que Brasília, a nossa amada Capital, projetada e apresentada ao mundo como se fosse uma maquete moderna e de invejável funcionalidade, aos sessenta e poucos anos esboça um cansaço que incomoda. Seria fadiga precoce, ou esse mal vem da chamada incompetência administrativa, apelido simpático de má gestão? O fato, senhores, é que alguma coisa está fora da ordem natural dessa cidade, só pode ser isso. O caos no trânsito é apenas mais uma anomalia que, aos poucos, por acomodação ou desânimo, estamos nos acostumando a aceitar. Pagar boletos de multa fazem parte do calendário mensal do cidadão.
Criticar ou fazer considerações negativas sobre a nossa cidade não é a melhor das terapias. Pelo contrário, dói na carne, incomoda e de alguma forma abala o orgulho natural que todos temos da cidadania. Mas, ao que parece, passa da hora de que alguma providência tenha que ser adotada, doa a quem doer. O estrangulamento gigantesco do trânsito, nas chamadas horas de pico, está levando o cidadão a um stress preocupante, quase doentio.
O problema se arrasta, cresce a cada dia e as autoridades, por mais que anunciem medidas e soluções milagrosas, esbarram num projeto urbanístico que em nada auxilia na busca das chamadas áreas de fuga. Sabidamente, o problema maior acontece nas vias de acesso aos grandes condomínios e as cidades satélites. Grande parte da população reside nessas áreas, e esse mesmo contingente tem nas Asas Sul e Norte seus locais de trabalho. Fácil concluir, a questão é física, ocupação de espaço.
Vias mal traçadas, planejamento falho e ocupação desordenada de áreas residenciais, sem uma responsável orientação ambiental. Ou seja, o Governo permite que se construa verdadeiras cidades em torno de Brasília, (condomínios, principalmente), se esquecendo que essas comunidades vão se utilizar de veículos para locomoção. E para essa locomoção o sistema viário é frágil, caótico.
O crescimento desordenado da cidade, esse inchaço habitacional, ao que parece não está sendo considerado pelos governantes com a devida responsabilidade. O exemplo vivo dessa realidade é o acontece agora na região do Jardim Botânico, São Sebastião, Alphaville, Tororó, ABC e vizinhança. A região, em visível processo de expansão, luta na justiça para que possa duplicar pistas de acesso às áreas residenciais, o que facilitaria muito o trânsito no local.
A burocracia, a lentidão da justiça e a especulação imobiliária travam o processo e as obras não acontecem. Com isso, os problemas e as preocupações das comunidades da área só aumentam. E mais, geram prejuízos de toda ordem, inclusive financeiros. Famílias que investiram na compra de habitações nesses locais assistem, impotentes, uma evidente desvalorização do investimento, por motivos óbvios. Os transtornos não param por aí. Famílias deixam suas casas, diariamente, por volta de seis horas da manhã para levar crianças para as escolas, mesmo com aulas iniciando às 8 horas.
A comunidade não é tola, entende e concorda que as obras iniciadas nessas regiões contribuem para o agravamento das complicações no trânsito local, claro que sim. Mas não queira a Secretaria de Obras ou o Detran convencerem as pessoas que tudo será normalizado após o término dessas obras. O problema é estrutural, e merece uma análise bem mais eficiente para que se chegue a uma solução definitiva. Congestionamentos esporádicos acontecem em todas as grandes cidades do País, nada mais natural. Mas da forma como vem acontecendo em Brasília a exceção está se tornando regra, e isso não pode ser considerado normal. Ou, pelo menos não deveria ser.