Violência

Artigo: Segurança Pública no Distrito Federal: entre a percepção e o risco

Os dados da SSPDF mostram queda acentuada das taxas de homicídios, latrocínios, roubo e furtos a transeuntes, em residências, comércio, e em coletivos

ANA MARIA NOGALES
FREDERICO BERTHOLINI

Segurança Pública é um tema diariamente presente nas nossas vidas. Roubos, furtos, mortes, força policial, violência são palavras cotidianamente mencionadas nos jornais, nas redes sociais e nas conversas entre pessoas de todas as idades, gêneros, raças e renda. Atento à importância do tema, o ObservaDF analisou, no seu último relatório, dados da Secretaria de Segurança Pública (SSPDF) e conduziu uma pesquisa amostral sobre a percepção de segurança no DF.

Os dados da SSPDF mostram queda acentuada das taxas de homicídios, latrocínios, roubo e furtos a transeuntes, em residências, comércio, e em coletivos. Ou seja, redução geral, tanto em crimes contra a vida quanto contra o patrimônio. Esses resultados colocam o DF entre as três unidades da Federação com menor taxa de mortalidade por violência intencional no país, em 2022, ao lado de São Paulo e Santa Catarina. Homicídios, latrocínios e lesões seguidas de morte apresentam intensa redução desde 2012. De 31,6 em 2012, a taxa caiu para 10,1 óbitos por 100 mil habitantes em 2022, diminuição de 68%.

No entanto, mesmo com a redução observada tanto nas áreas de maior quanto de menor renda, o relatório evidencia a persistência de desigualdades, com os níveis de ocorrência de crimes sendo mais elevados nas áreas mais pobres.Outro ponto negativo é que, em contraste à melhoria da maior parte dos indicadores, violência sexual e doméstica persistem em níveis elevados. Sendo que, no caso da primeira, a tendência é de aumento, com moradoras das regiões de mais baixa renda correndo maiores riscos.

Agora, se os dados indicam uma queda acentuada na ocorrência da maior parte dos crimes, a percepção da população aponta outra tendência.Os resultados da pesquisa mostram que 63% acham que a criminalidade aumentou nos últimos 12 meses no DF. Com relação à criminalidade na vizinhança da residência, a percepção de aumento é mencionada apenas por 30%. Ou seja, há um descompasso entre os indicadores objetivos de criminalidade e as percepções da população. A expressiva melhora dos indicadores parece não ser percebida pelos moradores do DF. Outro aspecto curioso é que, enquanto os dados objetivos apontam diferenças relevantes entre áreas com maior e menor renda, a percepção de insegurança não segue este padrão.Todos se sentem igualmente inseguros.

Essa sensação de insegurança faz com que as pessoas mudem suas rotinas. Cerca de 78% deixam de sair à noite por conta da violência. Mais de 70% também deixam de frequentar locais onde há consumo de bebidas alcoólicas, pelo mesmo motivo. Até a mobilidade urbana é afetada, já que mais da metade das pessoas (51%) afirma evitar usar transporte coletivo, por medo de que possa acontecer algo. Esse aspecto é mais intenso em relação às mulheres, cuja percepção de insegurança pode estar influenciada pelos elevados índices de violência doméstica e sexual.

A pesquisa também trouxe dados sobre vitimização, que tende a captar eventos não registrados nas delegacias, e portanto, não presentes nas estatísticas oficiais. Ali, 18% disseram ter sido vítimas de furto ou roubo e 19% de algum tipo de humilhação, xingamento ou confronto. Talvez isso ajude a explicar porque as pessoas se sentem inseguras. Outro aspecto que pode contribuir para a sensação de insegurança é a exposição a notícias sobre a ocorrência de crimes. Isso pode fazer com que a pessoa se sinta segura em sua vizinhança, porque não recebe informações sobre ocorrências em suas redes de proximidade, mas acredite que a criminalidade está aumentando no DF porque está exposta a crimes noticiados pela imprensa. Ao trabalho de garantir um DF efetivamente mais seguro, soma-se a necessidade de transmitir aos habitantes essa sensação. Um caminho desafiador, entre risco e percepção, que o GDF precisa percorrer.

ANA MARIA NOGALES e FREDERICO BERTHOLINI, pesquisadores do Observatório de Políticas Públicas do DF (Observa DF)

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