Mudanças sociais

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O Brasil muda com extrema velocidade. É difícil acompanhar os fatos que ocorrem com rapidez desmedida

A candidatura do líder indígena Ailton Krenak à cadeira de número 5 da Academia Brasileira de Letras (ABL), deixada pelo historiador José Murilo de Carvalho, é uma evidência escandalosa da velocidade de como a a sociedade brasileira avança. Krenak é pensador, jornalista, autor, poeta, ambientalista e doutor honoris causa pelas universidades de Juiz de Fora (2016) e de Brasília (2021). Há quase dois anos, o escritor de origem indígena Daniel Munduruku pleiteou a cadeira 12 deixada pelo crítico literário Alfredo Bosi, mas foi derrotado pelo médico Paulo Niemeyer Filho.

O Brasil muda com extrema velocidade. É difícil acompanhar os fatos que ocorrem com rapidez desmedida. O ex-ministro Delfim Neto chegou a reclamar desta característica brasileira. Certa feita ele disse que “a gente passa um ano sem visitar determinada localidade e quando retorna já existe uma cidade”. Essa mania nacional de crescer não consegue ser sufocada pelos políticos. É o que distingue brasileiros dos argentinos. Eles preferem lamentar as dificuldades e os brasileiros tentam ultrapassá-las com seus famosos jeitinhos.

Fortaleza, a ensolarada capital do Ceará, ultrapassou Recife. Hoje é importante hub de aviação de empresas internacionais. Goiânia passou a integrar o rico interior de São Paulo. Também funciona como uma das capitais do agronegócio. São muitos exemplos de regiões do Brasil que estão vivendo crescimento vertiginoso. É preciso prestar atenção para a nova realidade nacional.

O governo do presidente Lula tem, à sua disposição, oportunidade única de incorporar a Região Norte ao território brasileiro. Sem retórica, ação direta para criar renda e emprego na área mais pobre e esquecida do território nacional. Segundo as primeiras estimativas técnicas a reserva de petróleo existente na margem equatorial pode alcançar a 10 bilhões de barris, volume próximo às reservas provadas do pré-sal que são da ordem de 14 bilhões. A preços de hoje a arrecadação de royalties a ser gerada na nova região produtora seria de R$ 3,4 bilhões por mês. Caso alcance o atual nível de produção do pré-sal, os recursos dos royalties chegariam a R$ 7,8 bilhões mensais. É quantia destinada a fazer muita diferença.

Esse dinheiro poderá irrigar a debilitada economia do norte do Brasil, além de financiar a transição para o combustível verde. O Exército brasileiro tenta há muito tempo adensar a população na fronteira norte do país com o projeto Calha Norte. Chegou a oportunidade. A Guiana está extraindo 375 mil barris/dia. Chegará a 1.200 b/d em dois anos. Georgetown fica mais próximo de Boa Vista do que de Manaus. A estrada de 600 quilômetros que liga as duas capitais tem um terço asfaltado. É preciso fornecer mão de obra, engenharia e know-how ao vizinho do norte, que com seus 800 mil habitantes, é sério candidato a se transformar numa espécie de Kwait sul-americano. E consolidar a população naquela fronteira.

Os norte-americanos estão atentos. Antony Blinken, secretário de Estado dos EUA, esteve na Guiana no dia 6 de julho. O país esquecido virou protagonista. O mundo do petróleo sabe que a maior reserva de petróleo do planeta, depois dos países árabes, está na América do Sul. Se o potencial fosse explorado segundo as técnicas praticadas no Texas o continente teria produção maior que a dos Estados Unidos. Mas o cenário é desolador em vários países do continente, a começar pela Venezuela que destruiu sua outrora produtiva PDV/SA. Foi aparelhada pelos aliados do presidente Maduro e agora produz cerca de 700 mil barris/dia. Antes o número era 3.700 b/d. Outros países da região têm pequena produção.

Brasil e as Guianas têm a chance de se tornar o último grande polo de produção petrolífera do mundo, enquanto a produtividade deve cair nos centros tradicionais, ela pode se manter elevada por aqui. Poderá ser a redenção do norte do Brasil, não só da Amazônia, mas dos estados da Costa Norte, que produzem energia eólica e passarão a produzir também petróleo. É oportunidade de ouro para o presidente Lula e seu partido político. Não acontece duas vezes numa vida.

O presidente Lula viaja muito. Ele está na Índia para a reunião do G-20, depois vai a Cuba e em seguida aos Estados Unidos. Ele descobriu o mundo, avançou nas suas conversas sobre acordos internacionais e novas possibilidades de comercio. Falta virar os olhos para dentro e perceber que ele tem diante de si oportunidade que nenhum outro presidente teve antes: gerar renda e emprego sustentáveis nas regiões mais pobres do país. É algo que poderá colocá-lo no nível do presidente Juscelino Kubitschek. Isto é, se a oportunidade for aproveitada.

ANDRÉ GUSTAVO STUMPF, jornalista (andregustavo10@terra.com.br)

 

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