ANA PAULA LIMA
Em 10 de setembro de 1994, no Colorado, Estados Unidos, o jovem Mike, de 17 anos, tirou sua vida com uma arma de fogo. No interior do seu Mustang 68 amarelo, totalmente restaurado por ele mesmo, Mike deixou um bilhete para sua família: “não se culpem, eu amo vocês”. Na despedida, a família decidiu distribuir fitas amarelas para alertar sobre a dor que provoca a perda de uma vida. Na fita estava escrito: “Se você precisar, peça ajuda”.
Esta ação ultrapassou fronteiras e viralizou mundo afora. Após ter mais de 20 milhões de mensagens compartilhadas, a Organização Mundial da Saúde escolheu simbolicamente a cor amarela e elegeu o dia 10 de setembro como Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, um alerta para o sofrimento causado pelas doenças psicológicas e um momento para a reflexão e o apoio às pessoas que precisam de ajuda para preservar a vida.
No Brasil, a Campanha Setembro Amarelo foi instalada em 2015 com o decisivo apoio do Centro de Valorização da Vida (CVV), do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Este ano, a campanha fortalece e retoma a solidariedade com a família de Mike e adota novamente o lema: Se precisar, peça ajuda!
O sofrimento mental não é um detalhe. São 14 mil brasileiros por ano, ou 38 pessoas por dia, que cometem o suicídio. Um sintoma que tem jovens como Mike, o seu principal alvo. Estudos divulgados no Brasil apontam um aumento significativo na taxa de mortalidade de adolescentes e jovens de 15 a 29 anos por suicídio. É a quarta causa de morte mais recorrente, atrás de acidentes de trânsito, tuberculose e violência interpessoal.
Fazendo um recorte acerca do boletim epidemiológico elaborado pelo Ministério da Saúde em 2021, o estado de Santa Catarina apareceu ao lado do Rio Grande do Sul entre os estados que apresentaram as maiores taxas de mortalidade por suicídio do país. Esse estudo indicou que durante o período de 2017 a 2021, foram notificados 3.888 casos de óbito por suicídios em Santa Catarina, chegando a taxa de 13,2 mortes a cada 100 mil habitantes no ano de 2021.
Seja pelo sofrimento psíquico, pela depressão, por causas como o alcoolismo ou as drogas, a violência sexual ou o isolamento social, essas pessoas desistem de viver. São famílias destroçadas e perdas que poderiam facilmente ser evitadas com o cuidado, o tratamento adequado, o apoio e a orientação.
Mas para isso, precisamos prestar atenção aos sintomas, muitas vezes silenciosos, e nas fragilidades da saúde mental de quem nos rodeia. Ter um comportamento de atenção, tolerância, entendimento, solidariedade e apoio pode fazer toda a diferença. Precisamos dialogar mais e construir saídas compartilhadas, com a união e o apoio da família e da sociedade para os momentos de angústia e dor psicológica.
Além de uma sociedade solidária com esta causa, é preciso que as instituições também incorporem o Setembro Amarelo e fortaleçam o trabalho de milhares de voluntários que diariamente prestam seu apoio na valorização da vida, bem como os profissionais e os espaços que acolhem pessoas com doenças mentais e todos aqueles que compartilham o saudável e engrandecedor sentimento de viver com amor, solidariedade e respeito ao próximo.
No Congresso Federal, por exemplo, a criação da Frente Parlamentar Mista para Promoção da Saúde Mental, é uma iniciativa de parlamentares da Câmara e do Senado Federal que visa o estudo, desenvolvimento e manutenção de políticas públicas de promoção da saúde mental. Tendo em vista o crescente debate sobre o tema na população em geral, urge a necessidade de aperfeiçoamento da legislação vigente a este tema.
A vida humana é preciosa e insubstituível. Uma dádiva! É a valorização da vida que pode superar problemas e dificuldades, construir soluções e fortalecer trajetórias de felicidade e de realização.
Somos melhores e mais felizes quando vivemos juntos. Vamos cuidar com afeto àqueles que precisam. Que o amarelo irradie e aqueça vidas!
ANA PAULA LIMA, deputada federal (PT/SC) e secretária da Primeira Infância, Infância e Juventude da Câmara dos Deputados