O governo precisa estar atento para não perder tempo na adoção das medidas do programa de revitalização do setor industrial, ou de reindustrialização, como vem sendo chamado. E certamente esse é o termo, uma vez que o Brasil passou por um processo de desindustrialização com perda de participação do setor no PIB, sobretudo da indústria de transformação, nas últimas décadas. O curtíssimo prazo mostra os efeitos que o setor pode trazer para a economia. Com os incentivos à venda de veículos no segundo trimestre, foi a indústria que sustentou — com o consumo das famílias — o crescimento de 0,9% do Produto Interno Bruto de abril a junho deste ano. Sem o incentivo, o setor não terá tração para ancorar o crescimento no terceiro trimestre, mesmo sendo este um período de encomendas do varejo para o fim do ano.
A produção industrial teve queda de 0,6% em julho em relação a junho e de 1,1% na comparação com o mesmo mês do ano passado. O destaque na retração foi a fabricação de bens de capital e de bens duráveis, com recuo 7,4% e 4,1%, respectivamente. Nos dois casos, que acumulam, cada um, perda de 9,5% em dois meses, o resultado é reflexo das altas taxas de juros cobradas no Brasil, com a Selic em 13,25%. Bens semiduráveis, com crescimento de 1,5%, puxaram para cima a produção de bens de consumo (1,4%).
Com juros altos, empresas postergam investimentos em aumento de capacidade, reduzindo a demanda por máquinas e equipamentos, enquanto consumidores freiam a demanda por itens duráveis, como carros, móveis e eletrodomésticos, entre outros. Nesse cenário, a indústria de transformação, que agrega valor a insumos básicos, recuou 0,4% em julho. Ressentindo-se de uma conjuntura global de desaceleração, a indústria extrativa brasileira fechou o mês de julho com queda de 1,4%, completando o quadro de estagnação do setor.
A queda da produção industrial em julho veio depois de estabilidade em junho e crescimento de 0,3% em maio. A indústria brasileira vem rodando em ritmo lento ao longo do ano, com pequenas altas ou quedas a cada mês. No ano, a queda é 0,4% e em 12 meses o setor está estagnado. É preciso lembrar que no setor industrial estão os melhores salários e o maior potencial de investimento em inovação, o que por si justifica o estabelecimento de uma política específica para o setor. Desde a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva se fala em um projeto de reindustrialização, que ainda não foi oficialmente lançado.
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, sinalizou que serão destinados mais de R$ 100 bilhões nos próximos quatro anos, entre financiamentos e recursos não reembolsáveis, para fomentar a indústria brasileira. Recursos são necessários para um parque que vem sendo sucateado ao longo dos anos, mas não é suficiente para pôr de pé um setor que, nos anos 1980, respondeu por cerca de 30% da geração de riqueza do país e hoje representa menos de 20%. A indústria de transformação, que já respondia por 27% do PIB, atualmente corresponde a pouco mais de 10%.
É preciso que se definam diretrizes para aproveitar o potencial brasileiro nos processos de transição energética e de desenvolvimento sustentável, assim como para dotar o país de tecnologia de ponta. Se por um lado as transformações globais, com disputas tecnológicas e geopolíticas e mudanças climáticas, tornam mais difícil a tarefa de reindustrializar o país, é preciso ver nesse cenário as oportunidades para tirar o segmento do marasmo que viveu nos últimos anos.