Na reação ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 0,9% no segundo trimestre de 2023 em relação aos três meses anteriores, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu que o avanço na geração de riqueza seja distribuído para mais brasileiros, o que, segundo ele, nunca foi feito no país. De fato, nas últimas décadas, o Brasil viu a desigualdade de renda aumentar, depois de um período em que se defendia que "era preciso crescer o bolo, para depois dividi-lo" - frase atribuída ao então ministro da Fazenda Delfim Neto no regime militar. O Brasil nunca superou o desafio de ser um país mais igualitário, perpetuando a condição de renda média baixa. Desde que se industrializou, convive com a transição para uma economia de padrão de renda alto, como as nações desenvolvidas, sem alcançar essa condição. É sempre o país do futuro.
Os programas de transferência de renda ajudam a abrir caminho para uma maior distribuição de renda, mas são insuficientes para assegurar o crescimento estrutural da renda dos brasileiros, o que, a exemplo de outros países, ocorre com garantias à competitividade econômica e condições de mobilidade social que elevem o padrão de renda dos cidadãos. E isso é possível com crescimento econômico sustentável e investimentos para a modernização da economia. A atividade econômica brasileira mostra resiliência diante das inúmeras crises e dos solavancos sofridos ao longo da história, mas seu potencial ainda não foi totalmente explorado exatamente porque não há um processo de desconcentração de renda que eleve o país à condição de desenvolvido.
Ainda que não totalmente atualizados, os dados mostram o quão concentrada é a renda no Brasil e como isso se transforma em uma desigualdade social brutal e que trava uma aceleração maior do desenvolvimento econômico. Dados da Pnad Contínua, do IBGE, mostram que o 1% dos brasileiros mais ricos tem renda 32,5 vezes maior do que os 50% mais pobres. Em 2022, essa diferença significava uma renda mensal per capita de R$ 17.447 na parcela dos mais ricos contra R$ 537 entre os mais pobres. E no ano passado a situação melhorou, uma vez que em 2021 a diferença de renda entre ricos e pobres era de 38,4 vezes.
Em outro estudo, compilado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), o Brasil aparece como um dos recordistas em concentração de renda. No levantamento da ONU, de 2019, o Brasil aparece em segundo lugar entre 180 países no ranking de concentração de renda. Segundo o órgão da ONU, o 1% da população mais rica do país detém 28,3% da renda, enquanto os 40% mais pobres ficam com 10,4%. Ou seja, os mais ricos no Brasil ficam com uma fatia quase três vezes maior do que um contingente enorme da população. Essa é uma dura realidade brasileira, que não tem apenas uma causa e portanto não pode ser mudada com discursos ou simples auxílios emergenciais para os mais pobres.
O controle das contas públicas, uma reforma tributária que desonere efetivamente os investimentos e a renda, um programa de reindustrialização que insira o Brasil nas cadeias de suprimento globais são ações estruturais inadiáveis. Elas devem ser complementadas com taxas de juros mais baixas e maior acesso ao crédito para permitir a retomada efetiva do crescimento econômico a um ritmo superior ao patamar de 2,5% na média nos últimos 40 anos. Além disso, é preciso fortalecer a educação e a formação de trabalhadores para que haja mobilidade social e eles se apropriem desse crescimento via salários melhores.