Quase um ano atrás, o desfile do 7 de setembro deu o tom do que seria o período eleitoral que culminaria nos ataques de 8 de janeiro. O Correio escalou uma equipe de repórteres - eu incluso - para acompanhar tanto o desfile oficial das forças quanto a manifestação eleitoral em apoio ao ex-presidente. Na prática, não havia como distinguir os dois. Esse é o problema. Uma das datas mais importantes para a história brasileira foi cooptada como palanque, com Jair Bolsonaro discursando em um trio elétrico minutos após deixar o evento oficial (bancado com o dinheiro do contribuinte).
Coitados dos que estavam ao lado dos alto-falantes quando ele puxou o infame coro de "imbroxável". Digo por experiência própria. Juro que vi até um ou dois apoiadores constrangidos. Independentemente de apoiar suas decisões à frente do cargo, há de se esperar seriedade das instituições públicas, especialmente da autoridade máxima da República. Isso sem contar a comparação desrespeitosa entre as agora ex e atual primeiras-damas.
O que mais preocupou foi o que vi entre os apoiadores. Havia muita gente, um forte indicativo do apoio que o então presidente ainda tinha. O público acendeu, inclusive, o alerta na campanha do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva. Mas esse não era o problema. O assustador foi ver a quantidade de faixas e cartazes pedindo o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal. Pedindo a prisão do ministro Alexandre de Moraes. O "acionamento" das Forças Armadas contra a ameaça fantasma do comunismo. A criação de uma nova Constituição federal "anticomunista".
Não eram poucos os que defendiam medidas antidemocráticas. Não eram poucos os que pediam um golpe de Estado. E vimos, com o passar do tempo, que mesmo autoridades do Estado se mobilizaram para tentar viabilizar o rompimento democrático. Não chegamos ainda ao final das investigações, mas já temos indícios suficientes para saber que a ideia foi considerada.
Neste 7 de setembro, devemos lavar a história vergonhosa das celebrações anteriores. A celebração da Independência é de todos os brasileiros. Assim como a bandeira e todos os símbolos nacionais, não deve nunca mais ser cooptada por nenhum movimento político, muito menos por um que vai contra tudo o que construímos no campo democrático.