Nesta sexta-feira inicia-se o Setembro Amarelo – mês de prevenção ao suicídio e aos trantornos mentais. A história da cor amarela é triste, mas interessante. A campanha foi inspirada no norte-americano Mike Emme, que tirou a própria vida aos 17 anos. O jovem tinha um carro amarelo e, por conta disso, em seu velório, pais e amigos distribuíram cartões com fitas amarelas e frases motivacionais para qualquer um que pudesse estar enfrentando transtornos mentais e emocionais. Assim surgiu o Setembro Amarelo.
De acordo com a Organizacão Mundial da Saúde (OMS), são registrados mais de 700 mil suicídios em todo o mundo, sem contar os episódios subnotificados. Segundo os especialistas, esse número pode chegar a 1 milhão de casos. No Brasil, entre 2010 e 2019, foram 112.230 mil mortes e nos últimos anos são aproximadamente 14 mil casos por ano, o que corresponde a uma média de 38 suicídios notificados por dia.
O que mais preocupa é que um mapeamento feito pela OMS, em 2022, elegeu o Brasil como o país que mais sofre de ansiedade na América Latina, e sabe-se que esse é um dos fatores — ao lado da depressão — que mais reforçam os pensamentos suicidas. Além disso, novos dados da OMS divulgados recentemente, em junho de 2023, revelam que 31,6% de quem lida com a ansiedade são jovens de 18 a 24 anos.
Não há dúvidas de que a pandemia e, consequentemente, a tristeza decorrente de mais de 700 mil mortes por covid-19 no Brasil exacerbaram esse sentimento de vazio, de impotência, de medo, diante de um vírus até então desconhecido. Fato é que quase ninguém ou ninguém saiu mentalmente equilibrado dessa pandemia, mesmo naqueles casos em que a pessoa não perdeu nenhum familiar ou não teve episódios da doença.
E se antes temas como depressão, suicídio e burnout eram assuntos velados ou debatidos “à boca pequena”, hoje, tornaram-se constantes. Quantos casos de TDAH (transtorno de deficit de atenção e hiperatividade) foram diagnosticados, quantas famílias, hoje, discutem sobre formas de ajudar seus filhos com TEA (transtorno do espectro autista)? É óbvio que isso não significa que essas pessoas tenham pensamentos suicidas, mas esses exemplos demonstram que a sociedade precisa lidar com problemas reais, que afetam milhares de pessoas em todo o mundo, e não simplesmente colocá-los debaixo do tapete ou fingir que não existem.
Falar sobre suicídio apenas neste mês ou no dia 10, em que é lembrado o Dia Mundial da Prevenção ao Suicídio, ajuda, mas não muito. Enquanto governos e sociedade civil não se atentarem para a relevância de discutir o tema e tudo o que gira em torno desse problema, podemos contar somente com datas especiais e com o trabalho dos Centros de Valorização da Vida (CVV), que atualmente mantêm 120 postos de atendimento e a linha de telefone 188, gratuita e 24 horas por dia, para prestar assistência e apoio emocional a quem precisa. O CVV realiza mais de 3 milhões de atendimentos anuais, por aproximadamente 4 mil voluntários, localizados em 24 estados, além do Distrito Federal.