Calor insuportável e de proporções históricas, estações do ano que vão perdendo suas características bem definidas, incêndio catastrófico no Havaí, ciclone destrutivo no Rio Grande do Sul, dilúvio sem precedentes na Líbia. Não é preciso ser meteorologista para perceber que algo está muito errado. A Terra começa a cobrar um preço muito alto por sua destruição. E a culpa é toda nossa. Movidos pela ganância, predamos o meio ambiente sem nos importar com as consequências. Garimpos se espalham pela Amazônia, lançando mercúrio nos rios, assoreando o leito, provocando erosões e criando voçorocas gigantescas, por conta da degradação do solo. Em nome da força do capital, agropecuaristas desmatam a floresta para expandir o pasto. Derrubam árvores centenárias, que cumprem um papel fundamental na captura de carbono da atmosfera, na regulação da temperatura e no fornecimento de umidade.
Ignoramos por completo que os povos indígenas são, por direito, os donos da terra. Desprezamos a força da ancestralidade, e o fato de que eles habitavam o continente bem antes de nós. Ávidos pelo lucro e pela riqueza, usurpamos sua cultura e impomos a eles a necessidade de serem "civilizados", como se civilizados fôssemos nós. Também deixamos de vislumbrar a floresta como um repositório sem igual de riquezas biomedicinais, talvez fonte para a cura de doenças sobre as quais cientistas de todo o mundo se debruçam nos laboratórios. Para nós, a fauna e a flora são riquezas secundárias — pouco importa se animais sofrem o risco de extinção ou se a gigantesca samaúma está no caminho dos tratores com correntes.
Se não mudarmos a mentalidade em relação ao meio ambiente, trilharemos um trágico caminho sem volta. Nos últimos dias, as temperaturas no Distrito Federal atingiram índices históricos. Preocupa-me o fato de que meus filhos e netos provavelmente sofrerão, de forma mais aguda, os impactos da sanha destrutiva. Não foi por falta de aviso. Quantas COPs ocorreram, quantos relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mundaças Climáticas (IPCC) foram emitidos, quantas promessas de redução de poluentes acabaram feitas — e não cumpridas — pelas grandes potências.
Devemos ter um comportamento mais responsável não apenas ao nosso próprio futuro, mas também aos milhares de mortos nos desastres climáticos. Vítimas da irresponsabilidade de governantes que fazem vista grossa para a devastação ambiental em escala industrial. O planeta tem dado vários sinais. Estar atento a eles é uma obrigação.
Saiba Mais
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br