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MILITARES

Forças Armadas: manter a impulsão rumo ao bem servir

A liderança e a comunicação estratégicas precisam ser validadas pela ética militar, reforçando o papel dos militares para a construção de um país respeitado e equilibrado.

PRI-2709-OPINI -  (crédito: Maurenilson Freire)
PRI-2709-OPINI - (crédito: Maurenilson Freire)
postado em 27/09/2023 06:00

OTÁVIO SANTANA DO RÊGO BARROS, general da reserva, foi chefe do Centro de Comunicação Social do Exército

Na semana passada, o general de Exército Richard Nunes, chefe do Departamento de Ensino e Cultura do Exército (Decex), publicou no EBLog da força terrestre (https://eblog.eb.mil.br) o artigo A liderança estratégica ante os desafios do mundo PSIC. No texto, o autor aborda a liderança e a comunicação estratégicas no ambiente contemporâneo, enquadrando-o sob os conceitos do acrônimo: precipitado, superficial, imediatista e conturbado. Oferece, como conclusão, que a liderança e a comunicação estratégicas precisam ser validadas pela ética militar, reforçando o papel dos militares para a construção de um país respeitado e equilibrado.

Seguindo na mesma trilha, tratarei dos valores castrenses que perpassam e impactam os níveis político, estratégico e operacional das Forças Armadas durante processos decisórios. No livro A organização dirigida por valores (Alta Books, 2017), o autor, Richard Barrett, cita uma passagem de um curso ministrado pela Universidade de Harvard.

Na aula de abertura, foi apresentado a um grupo de grandes executivos um questionário com três perguntas simples: — Se sua empresa fosse fechada, a quem isso importaria e por quê?; —Quais de seus clientes sentiriam mais sua falta e por quê?; — Quanto tempo levaria para que outra empresa ocupasse o seu espaço?; — Quando as perguntas foram conhecidas, os grupos formados para o estudo de caso, que minutos antes conversavam animadamente, ficaram em silêncio.

Administradores acostumados a descrever suas empresas com naturalidade se mostraram incapazes de dizer qual era realmente o diferencial de cada uma delas. Fossem essas empresas organizações militares, as respostas das lideranças seriam mais facilmente elaboradas. Há, nas Forças Armadas, um sentido de propósito. Se as Forças Armadas fossem extintas, o Estado, o Governo e a população seriam os prejudicados, pois não se constrói uma nação sustentável sem segurança competente e adequada.

Erguer outra estrutura que simulasse o mesmo papel seria quase impossível. Capacitar-se a enfrentar antagonismos à soberania demanda anos de tentativas e certeza de frustrações constantes. No portfólio das Forças Armadas, o produto mais valioso da vitrine são os valores vividos pela “empresa”. O mundo PSIC exigirá cada vez mais lideranças aptas e comprometidas com os valores.

Lideranças estratégicas que ajam como aquele velho árabe que plantava uma tamareira e foi questionado por um jovem que passava pela estrada: — Por que o senhor planta essa tamareira se dela não vai desfrutar? Ao que o velho respondeu: — Não planto para mim, meu jovem, planto para nossas descendências.

Líderes estratégicos se fortalecem quando empunham os sabres ornados pela ética que impulsiona suas instituições. Como passo seguinte, assumem o compromisso de planejar e construir a imagem da organização, preservando-a dos contenciosos rasteiros. Se tornam, com isso, ponta de lança na defesa de uma cultura de sucesso que deixe um legado para seus sucessores. Líderes táticos, por sua vez, se envolvem com os problemas rotineiros, com as crises mais constantes, com os eventos que exigem soluções mais rápidas.

São os encarregados pela manutenção e reparo que darão vida longa e equilibrada àquela organização. Menos poderosos na estrutura organizacional, suas ações se projetam em um tempo mais curto, com terreno, meios e recursos humanos capazes de serem quantificados objetivamente.

Eles trabalham protegidos pela sombra dos valores cultivados nas viçosas tâmaras plantadas no passado e cuidadas pelas lideranças estratégicas que se sucederam na organização. Não me parece sábio confundir esses papéis. Um erro que analistas da conjuntura vêm cometendo de forma contumaz.

As Forças Armadas brasileiras, há bom tempo, compreenderam esse intricado processo. Reconhecendo-se uma empresa sem competidores no mercado, elas sabem o que têm de próprio e único em sua missão — oferecer profissionalismo com valores inquebrantáveis — e focam seus esforços para atender ao cidadão como se lhes fosse uma servidão.

Entretanto, nos últimos tempos, a instituição e as lideranças tanto estratégicas quanto táticas se tornaram alvo preferencial das disputas ideológicas, enquanto avançam corajosamente no proteger a sociedade brasileira. Parece ser esse o complexo desafio para elas nos próximos anos: manter a impulsão na caminhada rumo ao bem servir, mesmo diante de fogos traiçoeiros vindos de todos os quadrantes do campo de batalha.

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