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Política

Artigo: Os moinhos de vento

O presidente Lula conseguiu fazer da política externa complemento relevante da política interna. São muitos os projetos importantes que estão sendo tratados nos fóruns internacionais

moinhos de vento
 -  (crédito: Maurenilson Freire)
moinhos de vento - (crédito: Maurenilson Freire)
postado em 25/09/2023 06:00

ANDRÉ GUSTAVO STUMPF, jornalista (andregustavo10@terra.com.br)

Dom Quixote de La Mancha é obra do escritor espanhol Miguel de Cervantes, publicada em duas partes. A primeira surgiu em 1605 e a segunda 10 anos depois, em 1615. O livro narra aventuras e desventuras de um homem de meia idade que resolveu se tornar cavaleiro andante. O famoso personagem decide lutar para provar seu amor por Dulcineia, mulher imaginária. Consegue um escudeiro, Sancho Pança. Dom Quixote mistura fantasia e realidade. Transforma obstáculos banais, sejam moinhos de vento ou ovelhas, em gigantes e exércitos de inimigos.

O presidente Lula conseguiu fazer da política externa complemento relevante da política interna. São muitos os projetos importantes que estão sendo tratados nos fóruns internacionais. Se o acordo entre o Mercosul e a União Europeia for aprovado até o final do ano vai abrir uma formidável avenida de oportunidades para a economia nacional. O encontro previsto para Belém em 2025 para tratar da defesa do meio ambiente poderá retirar a Amazônia desta triste situação de ser região esquecida e desprezada pelo governo central.

Os países asiáticos foram os que mais se desenvolveram em tempos recentes. A campeã é a China que durante uma década cresceu mais de 9% ao ano. Agora, enfrenta problema na sua economia, com taxa elevada de desemprego entre jovens, baixo crescimento e alguma inflação. Isto significa tumulto interno, o que é um escândalo naquele país. O sistema procura manter toda a sociedade atendida. Ebulição social é problema sério. Nos Estados Unidos o problema é solucionado pelas eleições.

Alguns exemplos do outro lado do mundo são interessantes. O Vietnã é hoje o país que mais cresce porque recebe parte dos investimentos destinados à China. Singapura, um país de cerca de 580 quilômetros quadrados “quando a maré está baixa”, como dizia seu líder Lee Kuan Yew, ostenta altos índices de crescimento. Estes países desafiaram o capitalismo dentro de suas próprias regras. Ou seja, melhor produto com menor preço. Esta surpreendente mudança transformou a economia em todo mundo. Hoje em dia todo cidadão, em maior ou menor número, consome produto chinês. Os norte-americanos foram obrigados a repudiar seu antigo mantra, que era a prática do livre mercado. Agora, Washington cria barreiras físicas e tarifárias para importação de produto chinês.

Não esquecer da Índia, que é hoje país mais populoso do mundo, maior democracia do planeta e no caminho rápido para se tornar a terceira maior economia, ultrapassando o Japão. A Índia é também a campeã da desigualdade porque além de sérios problemas religiosos, divide sua sociedade em castas. No entanto, estes país é campeão na área de tecnologia e acaba de colocar uma sonda na superfície da Lua. O que une estes países é o forte investimento em tecnologia., em educação e a aposta firme no capitalismo à moda ocidental justamente para superar os ocidentais.

Este capitalismo radical, chamado de neoliberalismo, produziu esta situação a que o residente Lula se referiu no discurso proferido na ONU. Sistema que gera pobres, concentra renda e precariza o emprego. Não é bem assim. O mundo vive uma idade de prosperidade e baixo desemprego. Os países de grande crescimento percorrem este caminho em busca de produzir riqueza e empregos, embora precários, para os seus nacionais. Quando isso não acontece, surgem os líderes de direita, tanto aqui quanto nos Estados Unidos, praticando um nacionalismo troglodita, bestial, que opera com ódio e não se preocupa em construir nada.

O presidente Lula investe contra o mercado que precarizou os empregos. O motorista de aplicativo não pretende ter carteira de trabalho assinada. Ele dirige quando quer, ou quando pode. O pessoal que trabalha em casa, por computador, também, não busca a formalização de sua atividade. Normalmente, os nômades digitais trabalham para várias empresas dentro e fora do país ao mesmo tempo. Recebem por horas trabalhadas e podem fazer sua tarefa em qualquer lugar na sua residência ou na casa da praia, alugada por aplicativo.

A convergência de pontos de vista verificada no encontro de Joe Biden com Lula foi interessante. Biden está em campanha para se reeleger à presidência dos Estados Unidos. Falou para seu eleitorado. Lula falou para seus companheiros nos sindicatos paulistas. E para aqueles que pretendem reintroduzir o imposto sindical no sistema brasileiro com objetivo de fortalecer financeiramente os sindicatos e seus dirigentes. Objetivos diferentes e palavras semelhantes. É saudável propor a utopia. E combater inimigos, sejam moinhos de ventos ou castelos, mas neste caso eles reais. Existem e têm poder de reação.

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