Os diretores do Banco Central, reunidos, desde ontem, no Comitê de Política Monetária (Copom), devem anunciar hoje um novo corte de 0,5 ponto na taxa básica de juros da economia (Selic) conforme consenso entre economistas e analistas de mercado. A expectativa, mais uma vez, ficará em cima do comunicado após a reunião e, sobretudo em relação à ata que será divulgada na próxima semana. Com o corte previsto, a Selic passará a ser de 12,75% ao ano, o que é um patamar ainda alto em relação a outras economias do mundo, considerando a previsão de inflação este ano em 4,86% pelo último Boletim Focus do BC. No cenário atual, mesmo com a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acelerando para 0,23% em agosto em relação ao mês anterior, ela ficou abaixo das projeções do mercado. E, mais importante, mostrou deflação de 0,85% na alimentação e a manutenção da queda na inflação dos serviços, que subiu apenas 0,08%.
Esse quadro, mostrando o núcleo da inflação com tendência de baixa, é quase um confirmador para a queda das taxas de juros hoje para um patamar abaixo de 13% pela primeira vez desde maio do ano passado, quando estava justamente nos 12,75%. Há quem entenda que a conjuntura atual de queda da inflação com perspectiva de esfriamento da atividade econômica neste trimestre permite ao Copom acelerar a queda da Selic e promover um corte de 0,75 ponto percentual. Do ponto de vista da economia, a aceleração do corte de juros soa como música, mas, neste momento, mais importante do que uma possível redução da Selic acima do previsto pelo mercado é garantir que a decisão seja um consenso entre os diretores da autoridade monetária.
Na última reunião, quando se iniciou o corte da taxa de juros, os diretores estavam divididos entre fazer o corte nessa magnitude ou de apenas 0,25 ponto percentual. O que se espera agora é que entre elas exista um consenso de que tirar 0,5 ponto da taxa atual de 13,25% é uma decisão acertada e, desse forma, sinalizem para o mercado e para os agentes econômicos a continuidade dos cortes no horizonte dos próximos meses, com a Selic alcançando o patamar de 10% ao ano em algum momento de 2024. Por hora, mesmo que possa diminuir mais o aperto monetário, é melhor que o Banco Central adote moderação e indique a perspectiva de novos cortes até o fim do ano, nas reuniões de novembro e dezembro.
Outro fator que chama a atenção, além dos indicadores de preços, é o fato de a atividade econômica ter iniciado o terceiro trimestre deste ano com crescimento, embora persistam as projeções de uma possível queda do PIB entre julho e setembro. O desaquecimento seria um sinal para a possibilidade de maior flexibilização na política monetária. Mas o próprio Banco Central, com seu Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB), mostrou que a economia cresceu 0,44% em julho na comparação com agosto. O índice, acima da previsão do mercado, mostra resiliência da economia.
Outros indicadores, como o desempenho do setor de serviços e as vendas do comércio, confirmam o número divulgado pelo Banco Central e mostram pequeno crescimento em junho. Os serviços cresceram 0,5% em relação a junho e as vendas do comércio aumentaram 0,7% em julho, indicando que no momento em que o agronegócio perde fôlego, o consumo das famílias pode sustentar o ritmo de crescimento mais lento, mas contínuo. O importante é que, assim como agora podem estar tranquilos e não apressar a queda da Selic, os diretores possam se reunir em novembro com números suficientes para verificar o nível da atividade econômica no terceiro trimestre e, estando ela desaquecida, possam promover um ajuste na política monetária de forma a reaquecer a economia. Isso sem correr o risco de ver a volta da inflação.
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