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Homenagem

Artigo: Dad Squarisi

Ela faleceu amando o Brasil e o seu povo. É natural que esse sentimento se estendesse também ao nosso idioma

dad squarisi -  (crédito: Caio  Gomez)
dad squarisi - (crédito: Caio Gomez)
postado em 13/09/2023 06:00

ARNALDO NISKIER

Ela era, de nascimento, libanesa. Mas se tomou de amores pela língua portuguesa, que cultivou com muita intensidade. Dad Squarisi faleceu amando o Brasil e o seu povo. É natural que esse sentimento se estendesse também ao nosso idioma. O Centro de Integração Empresa-Escola (Ciee) de Brasília, quando resolveu ensinar português aos nossos jovens aprendizes e estagiários, entregou a tarefa a Dad Squarisi, que se desincumbiu admiravelmente bem essa tarefa.

Com o mesmo empenho, escreveu manuais para adultos e narrativas para crianças. Sempre com o mesmo sucesso. Ela era professora o tempo todo. Gostava de ser inquirida para tirar dúvidas. No “Correio Braziliense”, durante muito tempo, escreveu a coluna Dicas de Português, até ser lamentavelmente vitimada por um câncer de medula.

Com a sua voz mansa e tranquila, um dia não muito longínguo ela me telefonou, para acertar pormenores da minha colaboração ao jornal. Eu não sabia que ela estava internada, foi o Maurício Dinepi quem me contou, e fiquei ainda mais orgulhoso dos seus cuidados carinhosos. Era assim com todos.

Ela trabalhou no MEC, na UDF e no Senado da República. Tinha uma didática personalíssima, que nos fará muita falta. Foi editora de opinião do CB durante mais de duas décadas nesse importante órgão dos Diários Associados, a que serviu com zelo e competência. Redigiu duas edições do Manual de Redação do Correio, o que foi grandemente facilitado por sua formação em Letras e Linguística. Sempre valorizando o que para ela era sagrado: a clareza.

E estava antenada nas novas formas de comunicação imposta pela internet. Estudava as ferramentas da inteligência artificial para o ensino da língua portuguesa. Estava aberta ao novo, mas pregava cuidados indispensáveis no uso dessas inovações. Temia pelas alucinações já registradas.

Professora de todos nós, foi autora de diversos livros, que hoje são elementos essenciais da educação. O convite para trabalhar no Correio foi feito pelo jornalista Ricardo Noblat, com quem tive a honra de conviver por muitos anos na redação da revista Manchete. Ela soube aproveitar a oportunidade, com o seu vasto conhecimento de outras línguas, como o francês, o inglês e o espanhol. Saiu do Líbano com os seus pais aos seis anos de idade.

No Brasil, o seu primeiro pouso foi no Rio Grande do Sul, mas não se deu bem com o clima, em virtude dos seus problemas com uma asma renitente. A família se mudou para Brasília, onde foi professora do Instituto Rio Branco por mais de 10 anos. Foi ainda comentarista da TV Brasília e concluiu sua especialização na UnB. Tinha suas preferências literárias em nosso idioma: Machado de Assis, Graciliano Ramos e Guimarães Rosa. Como se vê, uma intelectual de muito bom-gosto. Fez muito sucesso com o lançamento de mais uma edição do livro “Desafios”. Será sempre lembrada.

ARNALDO NISKIER, membro da Academia Brasileira de Letras

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