O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu, em seu discurso na Índia, que, tão logo o Brasil assuma a presidência do G20, o grupo das nações mais ricas do planeta, em 2024, lançará uma aliança global contra a fome. A promessa é muito bem-vinda, levando-se em conta que mais de 700 milhões de pessoas não têm hoje o que comer. As desigualdades sociais têm se acentuado, a despeito dos avanços tecnológicos que o mundo vivencia. É fundamental ressaltar, porém, que parte importante desse desastre humanitário decorre das mudanças climáticas, que vêm atingindo, sobretudo, mulheres e crianças, os mais vulneráveis.
Lula tem sido uma voz importante não apenas no combate à miséria, mas também no chamado para que os governos e a sociedade se engajem, de forma efetiva, na proteção do meio ambiente. Com o Brasil na presidência do G20, Lula terá uma oportunidade única de liderar esse movimento, inclusive com o país se posicionando como potência na questão climática. O líder brasileiro terá, no entanto, que se desgarrar do setor de petróleo e gás, sabidamente, o principal responsável pelo veloz aquecimento do planeta, cujos resultados são eventos cada vez mais extremos, como os observados recentemente no Rio Grande do Sul, em que um ciclone extratropical deixou dezenas de mortos e um rastro de destruição.
Não é compatível com as falas de um defensor do meio ambiente, a defesa da exploração de petróleo na Foz do Rio Amazonas. Por isso, Lula e o Brasil terão de fazer escolhas se não quiserem ver questionadas suas credibilidade e liderança. Esse posicionamento claro, sem dubiedade, ganha ainda maior relevância porque o país sediará a COP30 em 2025, em Belém do Pará. Até lá, todos os signatários do Acordo de Paris, assinado em 2015, terão de apresentar à Organização das Nações Unidas (ONU) o que fizeram até agora para cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável assumidos até 2030. Em sua declaração conjunta, divulgada no sábado, o G20 reconheceu que somente 12% das metas foram cumpridas. Pior, em vez de cair, a emissão de gases de efeito estufa aumentou.
Desde que assumiu, pela terceira vez, a Presidência da República, Lula tem feito um périplo pelo mundo para recolocar o Brasil no debate internacional, como um dos atores principais. E não há como negar que a receptividade em relação ao brasileiro tem sido enorme. Portanto, é vital que o respeito em relação ao Brasil se transforme em um ativo real para que bandeiras tão caras, como o combate à fome, o enfrentamento às desigualdades, a inclusão e o respeito às minorias e a preservação ambiental, sejam encampadas pelas demais lideranças. O mundo se encontra em uma encruzilhada, em que os mais pobres são alijados do debate e a democracia, conquistada a duras penas, é questionada em todos os cantos e não é vista por muitos como o modelo mais adequado de governo.
O comunicado conjunto do G20 amplifica o tamanho dos desafios que estão colocados ao mundo. Crises constantes na economia atrasaram a agenda global de 2030, com aumentos de conflitos, guerras, inflação, perda de biodiversidade, alagamentos, degradação do solo, desertificação, fosso cada vez maior entre pobres e riscos, fatores que ameaçam a vida de todos. O momento não comporta mais discursos, exige ações concretas. O Brasil, por toda a sua relevância, deve estar na linha de frente do enfrentamento desses desafios, começando por cumprir o dever de casa, que passa pela estabilidade econômica e política.
Não há mais tempo a perder. O mundo pede socorro. A qualidade de vida da população em geral está ameaçada e abrir mão, por exemplo, da transição energética será empurrar a todos para o abismo. Ainda é possível fazer a virada em direção ao bom senso. Os últimos alertas da ONU sobre a situação climática são assustadores. Se não houver uma redução de pelo menos 43% das emissões de gases de efeito estufa até 2030, países e ilhas desaparecerão. Será o caminho para um futuro devastador.
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