O governo tem uma grande responsabilidade pela frente: o de garantir a continuidade do crescimento da economia, que surpreendeu no segundo trimestre do ano. O avanço do Produto Interno Bruto (PIB) foi de 0,9% ante os três meses imediatamente anteriores, o triplo da estimativa do mercado, de 0,3%. A atividade está respondendo a vários fatores positivos, entre eles, a maior estabilidade política e o pragmatismo na condução das ações na economia. O país deixou de conviver com o confronto entre os Poderes, o que é um alívio para os agentes financeiros, e passou a ter um horizonte que permite o planejamento. Há uma palavra fundamental para que empresários e investidores se sintam confortáveis para ampliar a produção: previsibilidade. E ela está de volta e é vital que seja preservada.
O foco das políticas públicas também funcionou como importante impulsionador da economia, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com o reforço dos programas sociais, como o Bolsa Família, e o aumento real do salário mínimo, as camadas mais pobres da população foram às compras. Não por acaso, o consumo das famílias saltou 0,9% entre abril e junho. Todo o dinheiro que entra no orçamento desse grupo vai imediatamente para satisfazer necessidades básicas. Essas políticas foram potencializadas pela inflação mais amena e pela resiliência do mercado de trabalho — a taxa de desemprego, em julho, de 7,9%, retornou aos níveis de 2014, quando o Brasil mergulhou em um quadro de recessão.
A perspectiva é de que o emprego continue em expansão nos próximos meses, mesmo que a atividade perca um pouco de força, como sinalizam alguns indicadores. Há, porém, condições para que, novamente, os resultados do PIB surpreendam nos próximos trimestres. O Banco Central começou a reduzir a taxa básica de juros (Selic), que baixou de 13,75% para 13,25% ao ano, movimento que continuará ao longo deste ano e do próximo. Para que o BC tenha tranquilidade para manter o afrouxo monetário, será preciso que o governo cumpra as metas fiscais a que se propôs, de zerar o rombo fiscal em 2024 e de garantir superavits nos anos seguintes. Contas públicas nos eixos reduzem a perpecpção de riscos na economia, ajudam a manter a inflação nos eixos e estimulam os investimentos produtivos.
Esse, por sinal, foi o ponto negativo dos dados divulgados pelo IBGE. Os investimentos, que ampliam a capacidade de se atender o consumo sem pressionar os preços, cresceram apenas 0,1% no trimestre. Tal desempenho tem muito a ver com a confiança. À medida que os bons resultados da atividade forem se consolidando, as empresas tenderão a retirar projetos da gaveta para ampliar as fábricas. As companhias só investem quando têm a certeza de que terão para quem vender mais à frente. Dinheiro, sabe-se, não aceita desaforo. Economistas acreditam que o consumo das famílias pode ter um novo incremento com a queda dos juros e os programas de renegociação de dívidas, como o Desenrola, que abrem espaço para mais demanda.
Enfim, neste momento, há, sim, motivos para respirar mais aliviado e rever, para cima, as projeções de crescimento da economia. Os analistas acreditam, agora, que o PIB poderá crescer entre 2,8% e 3% neste ano, mesmo que a atividade fique estagnada no segundo semestre, o que poucos esperam. Nesse contexto, não há espaços para aventuras, como gastos públicos desenfreados ou aumentos de impostos. A economia mostrou, nos primeiros seis meses do ano, que um ambiente menos tensionado, com responsabilidade fiscal e diálogo entre os Poderes e entre governo e iniciativa privada, traz resultados positivos para todos.
O Brasil ainda tem a vantagem de estar em uma posição privilegiada em relação a várias nações emergentes, como Turquia e Argentina, que não vivem bons momentos. Se mantiver a serenidade, políticas econômicas consistentes e avanços institucionais, o país tem tudo para despontar na preferência do capital externo. Na sexta-feira, depois do surpreendente resultado do PIB, a Bolsa de Valores de São Paulo, que vinha em queda, subiu quase 2% e o dólar caiu. São sinais importantes e que devem ser levados em conta.
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