Entre os 207 milhões de brasileiros, os jovens de 14 a 24 anos somam 35,1 milhões. Estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em 37 países, revela que 36% brasileiros na faixa entre 18 e 24 anos não trabalham. O Brasil fica atrás apenas da África do Sul. Uma posição incômoda para o país que tem a maior economia da América Latina, que esteve entre as 10 do mundo, e ficou na11ª no cenário global, considerando o Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 1,9 trilhão em 2022.
A avaliação da OCDE sobre a educação mostra também que o governo brasileiro terá de fazer um enorme esforço para tirar os jovens dessa situação. Diagnóstico da Subsecretaria de Estatísticas e Estudos do Trabalho do Ministério do Trabalho constatou que 5,2 milhões de jovens entre 14 e 24 anos estão desempregados, que correspondem a 55% dos 9,4 milhões de brasileiros em igual situação. Entre os jovens desocupados, 52% são mulheres, um grupo em que pretas e pardas somam 66%. Ao lado desse conjunto, 7,1 milhões não estudam nem trabalham. Mais uma vez, as mulheres são maioria: 60% — e a maior parcela dela tem filhos. Nesse universo feminino, as negras são 68%.
Os fatores renda, raça e gêneros somam para aprofundar as desigualdades, principalmente no Brasil, onde os negros, embora sejam 56% da população, são o segmento mais frágil, e com menos oportunidades, tanto no campo da educação quanto no mercado de trabalho. As dificuldades que compõem esse quadro trágico foram agravadas nos últimos dois anos pela pandemia do novo coronavírus. Boa parte dos jovens se viu obrigada a parar de estudar e seguir na formação profissional — efeito colateral do isolamento social, sugerido pelos especialistas.
Estudos produzidos por especialistas nacionais indicam que quando um jovem, de ambos os sexos, fica pelo menos dois anos fora do mercado de trabalho, perde ou não adquire experiência profissional e sem estudar, a retomada é mais difícil nos dois casos. No mercado de trabalho, esse jovem será preterido na disputa por uma vagas nas empresas que darão oportunidade a outros que não teve hiato tanto na sua formação escolar quanto laboral. Se tiver a sorte de ser aproveitado, o jovem terá um salário que lhe dificulta o próprio sustento, a colaboração para a renda familiar e, dificilmente, lhe dará condições de continuar os estudos.
A solução para esses impasses exige políticas públicas focadas nessas dificuldades enfrentadas pelos jovens de baixa renda. Mas só o Estado não será capaz de reverter esse quadro que afeta os milhões de jovens nem-nem. O poder público precisará da colaboração da iniciativa privada para pavimentar uma via de mão dupla, uma vez que o êxito das políticas públicas favorecem a economia. Os empresários precisam ter um olhar diferenciado para essa parcela da população que, comumente, é reconhecida como "futuro do Brasil".
A materialização desse discurso exige que as empresas tenham real compreensão dos dramas sociais enfrentados por esses jovens e lancem cordas para alçá-los à superfície. Dessa forma, terão condições de seguir uma caminhada na educação e no trabalho. O mútuo entendimento entre governo e empresários se torna fundamental para que o país e a sociedade brasileira possam crescer e alcançar o patamar de nação desenvolvida.