SOCIEDADE

Análise: hoje é Dia do Soldado, só que militares não têm nada a celebrar

Este ano, no entanto, a celebração tende a ser tímida, com a corporação em meio a uma crise de credibilidade perante a sociedade civil organizada

"O Exército, como o concebem os franceses, deve ser o 'o grande mudo', pronto a se sacrificar pelo bem da nação", Cândido Mariano Rondon, engenheiro militar.

Hoje é uma data importante no Exército. Comemora-se o Dia do Soldado, em homenagem ao nascimento do marechal Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, patrono da força terrestre. Este ano, no entanto, a celebração tende a ser tímida, com a corporação em meio a uma crise de credibilidade perante a sociedade civil organizada.

Pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta semana, com 2.029 pessoas, revela uma expressiva perda de confiança nas Forças Armadas nos últimos meses. Em dezembro, 43% diziam confiar nos militares. Agora, 33%. Ao mesmo tempo, o grupo que não confia saltou de 18% para 23%.

O mesmo levantamento também detectou dois movimentos importantes. A queda de confiança mais significativa ocorreu entre eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro — o que sinaliza algum tipo de frustração sobre alguma expectativa criada — e apenas as Forças Armadas viram a convicção da sociedade desabar, entre todas as instituições pesquisadas. A pesquisa também mensurou os níveis de confiança dos brasileiros na Polícia Militar, nas igrejas evangélicas e católicas, no Supremo Tribunal Federal (STF), no Congresso e nos partidos políticos.

Não resta dúvida de que os movimentos golpistas na porta dos quartéis logo após o segundo turno das eleições presidenciais, a participação de oficiais de alta patente em escândalos ligados a Bolsonaro, como o caso das joias sauditas, e a sequência de reportagens no ano passado sobre gastos da caserna com picanha, cerveja, próteses penianas, entre outros, contribuíram para manchar a imagem da força terrestre. Desde já digo que sou contra qualquer tipo de generalização, mas as ações de uns ampliaram a rejeição da população para os militares de uma forma coletiva.

Daqui a duas semanas, teremos o primeiro 7 de Setembro do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É o momento que os militares voltarão a desfilar com armas e veículos táticos pela Esplanada. A ideia do governo é dissociar a solenidade da gestão anterior, inclusive com um evento de menor duração. Não acredito em vaias, nada disso. É um festejo que normalmente encanta a criançada e assim será.

 


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