história do Brasil

Artigo: Missão a Tibicuera

O comprometimento do Exército brasileiro com o desenvolvimento e a proteção da Amazônia é secular e perene

GIL HERMÍNIO ROCHA

Érico Veríssimo criou o personagem Tibicuera, índio Tupinambá, que após receber um dom do pajé, superou o tempo e venceu a morte, se perenizando e participando de todos os eventos marcantes na história do Brasil. Tal e qual Tibicuera, o Exército brasileiro é instituição de carater permanente, a qual cabe o privilégio e o dever de assumir e de cumprir compromissos de ontem, de hoje e de sempre. O comprometimento do Exército brasileiro com o desenvolvimento e a proteção da Amazônia é secular e perene.

O esforço empreendido pela instituição para cooperar com a integração da área está claro nas palavras do general-de-Exército Rodrigo Otávio Jordão Ramos: “Árdua é a missão de desenvolver e defender a Amazônia. Muito mais difícil, porém, foi a de nossos antepassados de conquistá-la e mantê-la”. Reconhecendo o adágio do velho general, o Exército, por meio do órgão formulador da política da Força, o Estado-Maior do Exército, estabeleceu o Programa Amazônia Protegida, cuja finalidade é orientar ações estratégicas para a preservação da soberania brasileira sobre a região Amazônica, sendo os temas defesa, desenvolvimento sustentável e preservação ambiental eixos definidores para o esforço da corporação.

Na condução da tarefa, o Exército estabeleceu como prioridades para o sucesso da ação o desdobramento de novas organizações militares, aumento do efetivo, modernização dos pelotões de fronteira e, prioritariamente, difusão e aplicação de rígidas normas de proteção ambiental a serem seguidas em suas unidades. Quanto às novas organizações militares, foram levadas para Belém-PA, um comando militar de área, comandado por um general de exército, além de unidades de aviação e guerra eletrônica. Em Macapá-AP, na foz do Rio Amazonas, foi inaugurada uma brigada de selva, organização dirigida por um general de brigada.

Em Manaus-AM, foram ativadas unidades de defesa antiaérea, de guerra eletrônica e de polícia do exército. No que toca ao incremento de efetivos, as tropas dos dois comandos militares de área desdobrados na região cresceram quase 20% e contabilizam, hoje, mais de 30.000 homens e mulheres, além de seus dependentes. Já os pelotões de fronteira, uma pequena fração com cerca de 60 militares, pontas de lanças da soberania brasileira, vêm sendo modernizados com o apoio do Programa Calha Norte, do Ministério da Defesa, recebendo novas instalações, energia fotovoltaica, reformas nas pistas de pouso, escolas, poços artesianos, instalações de saúde etc. Todas essas iniciativas transbordam benefícios que alcançam as populações indígenas e ribeirinhas.

A respeito da energia fotovoltaica, um acordo de cooperação realizado entre o Exército e a empresa Itaipu Binacional, permitiu a instalação de uma planta solar no Pelotão Especial de Fronteira de Tunuí-AM, na Cabeça do Cachorro, expandindo os benefícios da energia para a tribo Baniwa, que ocupa a outra margem do rio Içana. Um belo exemplo de ação cidadã, na qual engenheiros e técnicos do Parque Tecnológico da Itaipu Binacional compartilham com militares do Exército inesquecíveis experiências no enfrentamento das adversidades na selva, com o objetivo de promover a inclusão de brasileiros indígenas ao seio de nossa sociedade.

Com o mesmo entusiasmo, os guerreiros de selva, presentes em diversos municípios daquele quase continente coberto de puro verde, perfuram poços artesianos em aldeias e comunidades ribeirinhas, e recuperam pistas de pouso que permitem a ajuda emergencial aos Ianomâmis e a outras etnias.
Aliás, quando se trata de integrar território e gente, é imprescindível lembrar-se do Marechal Cândido da Silva Rondon, que levou o telégrafo, no início do século 20, às regiões mais ocidentais de nosso território e cuja genuína defesa dos nossos índios se perenizou na frase: “Morrer se preciso for! Matar nunca”.

Na condição de gerente do Programa Amazônia Protegida e após vivenciar experiências de anos e anos de trabalho em prol daquela desafiadora região, posso e devo afiançar-lhes, caros leitores, poucos países foram capazes de preservar suas matas e selvas como fez e continua fazendo o Brasil.

A instituição verde oliva, irmanada às forças irmãs, firmou um irrevogável contrato moral de contribuir com o desenvolvimento e preservação da Amazônia Brasileira. É missão a Tibicuera. O Exército, atento, não se dobrará jamais e os ombros de seus homens e mulheres saberão resistir ao peso do desafio.
Selva!

GIL HERMÍNIO ROCHA, general de Brigada veterano, gerente do Programa Amazônia Protegida do Estado-Maior do Exército

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