Mais uma vez, tentaram destruir a democracia. O assassinato de Fernando Villavicencio, candidato à Presidência do Equador, foi uma brutal agressão ao Estado de direito, a 12 dias das eleições. No último dia 9, o jornalista investigativo recebeu três tiros na cabeça. Como repórter e na condição de político, Villavicencio levantou sua voz contra a corrupção. Denunciou a porosidade do Estado nas relações espúrias com o narcotráfico. Destemido, poucos dias antes de ser executado a sangue frio, chegou a desafiar os chefes dos cartéis das drogas. Pagou um preço alto demais. Além de uma violação à democracia, a morte de Villavicencio expôs o fracasso do governo em garantir a segurança à população. Como me disseram analistas políticos no decorrer da última semana, se o Estado não consegue assegurar a integridade física de suas autoridades, o que dirá de seus cidadãos?
O Equador tornou-se rota do tráfico de drogas. Quase um terço da cocaína colombiana sai de portos da América do Sul em direção à Europa e aos Estados Unidos. Parte da droga segue pelo porto equatoriano de Guayaquil. A posição estratégica do Equador para o comércio de entorpecentes, como uma espécie de entreposto, atraiu cartéis mexicanos, que se aliaram a organizações criminosas do país sul-americano. Segundo especialistas, a conexão entre os cartéis de Sinaloa e de Jalisco Nueva Generación com matadores de aluguel de grupos como Los Choneros e Los Tiburones e sua ação no Equador somente são possíveis graças à anuência de estratos do Estado. A corrupção assassina.
A execução de Villavicencio não é caso isolado. O Equador tem mergulhado em uma espiral de violência e de insegurança nos últimos meses. Em 30 de abril passado, atiradores mataram dez pessoas e feriram três no porto de Guayaquil. Em 23 de julho, Agustín Intriago, prefeito de Manta, a terceira maior cidade do Equador, foi assassinado a tiros enquanto acompanhava uma obra pública. Em 10 de agosto, um dia depois da morte do presidenciável, a candidata à Assembleia Nacional Estefany Puente escapou de um atentado à bala e foi ferida de raspão no braço, na cidade de Quevedo. Na última terça-feira, Pedro Briones — dirigente político da província de Esmeraldas, na fronteira com a Colômbia — também foi executado.
No próximo domingo, o Equador vai às urnas para escolher o próximo presidente e decidir o seu futuro. Quem assumir o posto mais alto do Palácio de Carondelet precisará ter pulso firme e coragem para enfrentar o narcotráfico. Caso contrário, os cartéis mexicanos e os grupos criminosos manterão o revólver engatilhado contra a cabeça da nação. Além de combater a criminalidade, o próximo presidente precisará promover uma verdadeira purga nas esferas do governo: afastar e punir aqueles que facilitam a ação dos traficantes. Eliminar os focos de corrupção no seio do Estado. Pela segurança da população e pela sobrevivência da democracia.
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