O ingresso em boas universidades públicas nem sempre é fácil; a depender do curso, exige muitas vezes do aluno uma razoável dose de resiliência. Mas, diferentemente daquilo em que alguns acreditam, ingressar nem sempre é o mais difícil, mas sim concluir o curso. As razões para isso são várias, desde o dinheiro para pagar o transporte público até as dificuldades decorrentes dos eventuais déficits de aprendizagem que os alunos trazem do ensino médio.
A taxa de desistência no ensino superior é mais alta do que se imagina. Dados do Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) do Ministério da Educação (MEC), tomando como referência o número de ingressantes no ensino superior em 2011 e monitorando-os até 2020, quando supostamente todos já deveriam ter concluído o curso universitário, revelam que, de cada 100 ingressantes, 59 desistem! – uma ineficiência brutal do sistema de Ensino Superior no Brasil. Seja no setor público ou no particular, esse número não é muito diferente, como também no presencial ou na modalidade do ensino a distância (EaD). É preciso conhecer as causas dessa elevada taxa de desistência, e é isso que o Porto Digital da cidade de Recife está fazendo, a partir de uma pesquisa feita com os estudantes brasileiros.
Na minha opinião, o ensino superior precisa conhecer melhor o ensino médio, desencastelar-se do campus e ir ao chão da escola. A universidade precisa urgentemente saber o que pensam e querem os nossos jovens que ainda têm como grande sonho fazer um curso universitário. E isso é o que mais me intriga quando nos deparamos com essa elevada taxa de desistência. É preciso estabelecer uma conexão melhor entre as perspectivas que os jovens têm quanto à universidade e aquilo que eles encontram – cursos muitas vezes rígidos, fechados nos quadradinhos das disciplinas e sem conexão com o mundo do trabalho.
Mas um primeiro passo que foi dado para reverter esse quadro partiu das importantes universidades públicas de São Paulo com a implantação do Provão Paulista, em parceria com o governo daquele estado, em que propõem um sistema de avaliação ao longo dos três anos do Ensino Médio. É bom lembrar que este sistema seriado de avaliação não é de hoje, mas vem lá de trás, com a Universidade de Brasília (UnB).
Contudo, o que está sendo agora proposto — e não estou aqui dizendo que eventualmente a nossa UnB não o faça — é mais do que uma avaliação seriada: é a busca por um melhor conhecimento da trajetória dos alunos da rede pública de São Paulo, em termos do desempenho escolar — o que estão aprendendo e o que deixaram de aprender ao longo do percurso —, a partir do qual se façam as intervenções necessárias antes que todo o leite seja derramado. Isso naturalmente inclui, ao menos espero — não ficou claro ainda para mim —, a melhora na formação de professores, tanto inicial como continuada.
Para ter uma ideia dos deficits de aprendizagem dos estudantes paulistas ao final do Ensino Médio, de cada 100 concluintes da rede estadual de ensino, apenas 6 aprendem o que seria esperado em matemática; em língua portuguesa, esse número é um pouco melhor: são 38, mas nada que possamos comemorar, tomando como referência os dados de 2021. Esse quadro de baixa aprendizagem escolar não é de agora.
O reitor da Universidade de São Paulo (USP), Carlos Gilberto Carlotti Júnior, é um grande entusiasta do Provão Paulista; mas ele também sabe que a própria USP precisa mudar os seus cursos de formação de professores. Em alguns aspectos, mesmo a melhor universidade brasileira tem dificuldades de romper com o retrovisor e olhar para onde aponta o farol. Como dizia o professor americano Richard Hamming, na década de 1990, os professores deveriam preparar os alunos para o futuro dos alunos, e não para o passado dos professores.
MOZART NEVES RAMOS, titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto
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