tensão na Península Coreana

Artigo: Dois mundos à parte

Para entender a dinâmica da tensão na Península Coreana é preciso imaginar dois mundos completamente antagônicos

Há sete décadas, em 27 de julho de 1953, autoridades das Coreias do Sul e do Norte, supervisionada pelas Nações Unidas, assinavam o acordo de armistício em uma das construções erguidas sobre o marco da fronteira — uma pequena divisória de concreto, no sólo do vilarejo de Panmunjeom. Depois de uma guerra sangrenta, em que morreram mais de 3 milhões de pessoas em três anos, nenhum tratado de paz foi firmado. Na teoria, Seul e Pyongyang seguem em conflito aberto.

Para entender a dinâmica da tensão na Península Coreana é preciso imaginar dois mundos completamente antagônicos. De um lado, um governo democraticamente eleito, aberto às relações internacionais, com um sistema capitalista sólido e uma economia marcada pela pujança e pela indústria de alta tecnologia, como Samsung e Hyundai. Do outro lado, uma tirania despótica e dinástica, um regime focado no mais completo hermetismo e no rígido controle social, com uma economia baseada na agricultura simples e por várias vezes afetado por uma fome que mata. 

Estive em Panmunjeom anos atrás. Uma região que cheira à tensão todo o momento. Com um histórico de ataques a machadadas e a tiros, além de deserções dramáticas. Enquanto a Coreia do Sul investe no bem-estar de seu povo, a Coreia do Norte aposta tudo no programa de enriquecimento de urânio e no lançamento de mísseis balísticos intercontinentais, vez ou outra ameaçando o Japão com voos sobre o território nipônico.  O desenvolvimento de armas nucleares por parte de Pyongyang deveria incomodar seu principal aliado, a China. Tudo o que menos se deseja é um ditador imprevisível com um arsenal atômico em mãos.

O futuro da Península Coreana depende do sucesso da comunidade internacional em lidar com Kim Jong-un e seus asseclas. A sombra da guerra paira sobre a região. Basta um erro de cálculo ou uma provocação mal engendrada para acender o barril de pólvora e provocar um conflito de consequências devastadoras.

A comunidade internacional precisa encontrar soluções para reduzir as animosidades e ajudar a promover a abertura política da Coreia do Norte. Os dois povos entendem que a reunificação possa ser o caminho mais curto para a paz. O problema é logístico: como abrigar a massa humana de norte-coreanos que, provavelmente, afluirá até o sul?

Será preciso que o Ocidente, incluindo a própria Coreia do Sul, crie mecanismos de fomento do desenvolvimento e do progresso econômico da Coreia do Norte após a eventual derrocada do regime de Kim Jong-un. Será necessário que as Nações Unidas e suas agências se empenhem em colaborar com esse processo. Uma Península Coreana em paz, aberta para o mundo e ávida pelo progresso é do interesse da humanidade.

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