FERNANDO BARROS,
A luta perturbadora entre crenças e fatos instala-se como o principal desafio da humanidade nesta quadra do século 21. A frase original de James Carville, criada em 1992 como mote da campanha de Bill Clinton na disputa pela Casa Branca com George Bush (“é a economia, estúpido”), tem novo significado 32 anos depois. Na Era da Desinformação, não basta evidenciar. Hoje, a informação subordinada a métodos de apuração (a científica e a jornalística) está em apuros. A realidade alternativa, a força negacionista do pensamento conspiratório é a nova variável política.
A Cúpula da Amazônia traz notícias auspiciosas para a agenda ambiental. Mas, continuam sem respostas as questões relacionadas ao futuro dos 38 milhões de habitantes da região, aprisionados numa lógicaextrativista, economicamente inconsequente e socialmente punitiva. Na base, a luta encarniçada entre extremos ideológicos que conseguem bloquear o cumprimento das Leis de regulamentação ambiental e fundiária: uns querem carta branca para destruir; outros, para travar quaisquer atividades econômicas estruturadas, mesmo as sustentáveis.
O entrave exclui soluções concretas e definitivas, como o pagamento pelos serviços ambientais prestados pelos produtores, responsáveis pela conservação de reservas legais privadas em mais de 200 milhões de hectares em todo o país. Capital para bons projetos sobra no mundo. Os recursos, em boa hora anunciados, em Belém, vão enfrentar o desafio da qualidade do retorno. Prefeituras e estados não dispõem de modelos para superar o abismo entre as tecnologias sustentáveis e a realidade dos usuários. O Brasil desaprendeu a transferir tecnologias e a organizar cadeias produtivas de forma contemporânea, competitiva, inclusiva.
Confinar tecnologias em prateleiras pune: a China já é o maior produtor global de tambaqui; a Alemanha começa a produzir pirarucu em estufa. A produção de peixes de Rondônia caiu pela metade, de 2017 pra cá. No mercado real, inovação e diferenciação sobrevivem com exclusividade por alguns minutos.
A divulgação do Índice do Desenvolvimento das Cidades Sustentáveis —2023, produzido pelo Instituto Cidades Sustentáveis, desnuda o rei:
97 % das cidades da Amazônia apresentam baixos índices de desenvolvimento.
75% dos seus habitantes moram em cidades. Dos 100 municípios de menor pontuação no IDSC no Brasil, 84 situam-se na região.
Capacitar prefeitos, governos estaduais e envolver agências de fomento com os problemas reais os problemas reais parece óbvio e inevitável. Mas, os governantes passam, a taxa média de crescimento da economia brasileira foi de apenas 1% ao ano nas últimas quatro décadas e Brasília continua disfuncional.
A guerra entre fatos e crenças está em seu ápice.
No jornalismo profissional, o Manual de Redação é o método, que filtra, checa e recheca antes da publicação. Na ciência, as teses submetem-se à revisão dos pares — a produção do conhecimento é um processo coletivo. A Bidenomics reduziu a inflação, derrubou a taxa de desemprego, superou índices de crescimento anteriores a Pandemia. E os eleitores, nem te ligo.
Na Matrix polarizadora vigente no Brasil e nos Estados Unidos, fundamentos econômicos contam pouco no processo decisório. Um post recente no Facebook reuniu a indignação dos jornalistas comprometidos com o método: “Se uma pessoa diz que chove e outra diz que não chove, seu trabalho como jornalista não é dar voz a ambas. É abrir a janela para ver se está chovendo”. Fecha o pano.
Em alguns dias vamos assistir da janela a chegada da calamidade climática: a seca, o El Niño e as queimadas vão migrar do Norte rico para o nosso quintal. A pílula vermelha abre a porta do debate do bem contra o mal — moral, religião, cultura, costumes. A narrativa conspiratória que agrada a uma metade, enfurece a outra. E o Brasil precisa vender alimentos para a China e para a Europa, para todos os credos, gêneros e cores de pele.
A pílula azul leva ao chão de fábrica, onde entraves seculares convivem com virtudes que não logramos enxergar: ciência, tecnologia, recursos naturais e humanos, e empreendedores no estado da arte.
A Matrix contamina e compromete a oportunidade do Brasil. Tomar decisões melhores num mundo de incertezas é o novo Rubicão. Rezando para que os amazônidas não se transformem em meros expectadores do esplendor da floresta!
FERNANDO BARROS, diretor de Comunicação Estratégica do Instituto Fórum do Futuro
f.fernandobarros@mail.com
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