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Meio ambiente

Artigo: A descoberta da Amazônia

A região, que é mais da metade do território nacional não é só a floresta e seus magníficos rios. É também local onde vivem milhões de pessoas. Preservar a Amazonia significa dar melhores condições de vida e trabalho para os que lá moram.

A escolha de Belém do Pará para sediar a reunião da Organização do Tratado dos países da Bacia Amazônia foi uma decisão inteligente -  (crédito: Maurenilson Freire)
A escolha de Belém do Pará para sediar a reunião da Organização do Tratado dos países da Bacia Amazônia foi uma decisão inteligente - (crédito: Maurenilson Freire)
André Gustavo Stumpf - Jornalista
postado em 14/08/2023 06:00 / atualizado em 14/08/2023 17:18

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva descobriu a Amazônia. E levou seus colegas a perceberem a existência da selva e de seus mistérios. Juntos, eles entenderam que existem índios, alguns até não aculturados, e uma população branca ou mestiça com cerca de 30 milhões de brasileiros. A região, que é mais da metade do território nacional não é só a floresta e seus magníficos rios. É também local onde vivem milhões de pessoas. Preservar a Amazonia significa dar melhores condições de vida e trabalho para os que lá moram.

A escolha de Belém do Pará para sediar a reunião da Organização do Tratado dos países da Bacia Amazônia foi uma decisão inteligente. Os problemas da Amazônia costumam ser discutidos em Berlim, em Paris, em alguma cidade elegante da Suíça ou nos Estados Unidos. Pouca gente pisou lá, conhece os problemas da região e a maioria ignora sua história. Os amazônidas se consideram esquecidos pelo governo brasileiro que jamais se movimentou para determinar algum de medida que resultasse em progresso da região.

A província do Grão-Pará, que reunia todos os estados do norte e o Maranhão se relacionava diretamente com Lisboa durante todo o período colonial. A razão é simples: é muito mais fácil e rápido navegar, com navio a vela, de Belém a Portugal, do que fazer a mesma viagem para Rio de Janeiro ou Salvador. O irmão do Marquês de Pombal, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, que foi governador daquele grande território, fez questão de batizar todas as cidades ao longo do Rio Amazonas com nome de cidades portuguesas. Foi a maneira de evitar a cobiça dos estrangeiros e comprovar que o território pertencia aos portugueses. Estrangeiros de todos os calibres tentaram se estabelecer na região.

A Amazônia passou a pertencer ao Brasil depois da Independência em 1822, mas somente em 1823, as capitanias do Grão-Pará e Rio Negro aderiram à independência em 11 de agosto deste ano, sob as ordens de Dom Pedro I. O almirante John Grenfell chegou a Belém com um documento exigindo a adesão do Pará. Caso os governantes negassem tornar a região independente de Portugal, uma esquadra em Salinas, cidade que fica nas margens do Atlântico, estaria pronta para fechar o acesso ao porto de Belém, isolando o Pará do restante do Brasil. A adesão à Independência do Brasil é comemorada no Pará com um feriado no dia 15 de agosto, conhecido como Adesão do Pará.

O Grão-Pará e o Rio Negro inicialmente resistiu à Independência porque a relação da Amazônia com Portugal era bem mais intensa e estreita do que com as outras províncias do Brasil. O Rio Negro submeteu-se ao Império do Brasil em 9 de novembro de 1823, mas ficou sujeito à administração da província do Grão-Pará até 1850, quando se tornou província do Amazonas em 5 de setembro.

Uma década após a independência, havia muito descontentamento com a situação política e econômica da região. E, nesse período de transição, os confrontos entre caboclos e brancos existentes desde meados do século 18, se intensificaram e terminaram por gerar a maior revolta nativista do norte do país, a Cabanagem. Essa revolta deixou sementes na população nos dias que correm. Há hoje um tímido movimento de independência dos povos Amazônicos para criar um país independente, cuja capital seria Santarém.

A realização do encontro dos chefes de governo da bacia do Amazonas em Belém muda a perspectiva dos amazônidas na sua relação com o Brasil e com os estrangeiros. Pena que Emmanuel Macron, presidente da França, convidado, não tenha comparecido, nem providenciado representante. O governo francês tem dificuldade para justificar a existência da Guiana Francesa, que é única colônia na América do Sul. Lá os problemas da Amazônia de repetem monotonamente: garimpos ilegais, desmatamento e criação de gado sem a menor preocupação ambiental.

O mérito desta reunião foi colocar na mesma sala Gustavo Manrique, chanceler do Equador, Mark Phillips, premiê da Guiana, os presidentes Gustavo Petro, da Colômbia, Luís Inácio Lula da Silva, do Brasil, Luís Acre, da Bolívia, Dina Bouluarte, do Peru, Delcy Rodrigues, vice-presidente da Venezuela e Albert Ramdin, chanceler do Suriname. Não chegaram a um acordo sobre a data para impor o desmatamento zero, nem sobre a pesquisa de petróleo na região. A Guiana acaba de descobrir um imenso lençol petrolífero. E o Equador explora petróleo na área da selva amazônica. São assuntos específicos. A importância do encontro está em que os dirigentes conseguiram discutir um assunto comum: a preservação da Amazonia. Pode ser o início de um novo tempo naquela região esquecida por brasileiros e os dirigentes dos países vizinhos.

ANDRÉ GUSTAVO STUMPF, jornalista

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