Este artigo é divulgado em homenagem a Dad Squarisi, editora do Caderno Opinião do Correio Braziliense, falecida em 10 de agosto passado, deixando um legado importante em seus escritos e nas Dicas de Português publicadas neste matutino.
Ao longo de milênios os homens e animais aperfeiçoaram os modos de se proteger de variadas ocorrências que poderiam — em tese — dar-lhe desconfortos, problemas físicos, desamparo ou prejuízos no cotidiano. Desde o tempo das cavernas até os edifícios de muitos andares, passando por habitações individuais, os abrigos sempre foram os refúgios contra a intempérie ou animais ferozes, fazendo com que as pessoas se considerassem seguras ou a salvo de agressões, do frio congelante ou outros eventos previsíveis ou de cunho sazonal.
Em Brasília, no fim dos anos 1950, havia moradores em Brazlândia, então distrito de Luziânia e em Planaltina, município goiano, depois transformado em região administrativa do Distrito Federal (RA/DF). Em ambas, os habitantes construíram suas habitações ou mesmo barracos, estes vistos em pesquisa feita sobre a mobilidade urbana por docentes e estudantes do Departamento de Geografia da Universidade de Brasília. Nesse inquérito se perguntava se a moradia era própria, alugada ou cedida por alguém ao morador. Geralmente, a habitação era própria, seguida da alugada e cedida à família ou da pessoa a ser entrevistada.
O governo federal implantou o programa Minha Casa Minha Vida, que procura suprir a enorme demanda por habitação, pois a necessidade de moradia faz da casa uma necessidade dos habitantes de qualquer cidade contemporânea. O problema poderá ser mais perceptível em grandes aglomerados, as metrópoles, onde a periferia urbana se estende pelo território que, devido à ocupação desenfreada não enseja a mesma velocidade por parte dos governantes para atender a aspiração de habitações. Também nesse sentido, não se notam programas que venham atender essa demanda, o que faz com que muitos optem pela obrigo improvisado sob viadutos ou à margem de grandes rodovias ou dos principais eixos de circulação, onde os trabalhadores esperam o transporte para se deslocar para o trabalho nas primeiras horas da manhã ou para o retorno à casa no fim do dia.
Portanto, sendo importante a casa ou um conjunto urbano deve ser mantido, ou mesmo ampliado em razão da necessidade da população em se manter protegida. No caso de Brasília, uma cidade que precisa ser definida porque nasceu como um núcleo — o Plano Piloto de Brasília, pensado e traçado pelo gênio do arquiteto e urbanista Lúcio Costa, no fim da década de 1950, como vencedor de concurso internacional para a transferência da capital do Rio de Janeiro para a região Centro-Oeste. Este propósito atraiu manifestações contrárias pelos que preferiam estar no litoral não longe das praias cariocas. Mas a determinação do presidente Juscelino Kubitscheck de Oliveira (JK) completou a mudança urbana em menos de quatro anos — o que foi denominado de “a epopeia do século”. Como meta síntese, ela atingiu quase todas as determinações de JK.
Ao longo do tempo, a capital federal cresceu acima do esperado, pois, no fim dos anos 1950 uma seca na região Nordeste fez com que muitos preferissem migrar para a nova capital, onde se dizia haver vagas de mão de obra para a construção de prédios governamentais. Essa migração pressionou o primeiro improviso, que foi a abertura de espaço para Taguatinga, em 1958, a primeira de três dezenas de cidades-satélites ou regiões administrativas na linguagem da esfera administrativa do GDF. Com isso, se consagrou dois aspectos importantes: completar uma das características urbanas, que fixa no território e abriga a população migrante e a que aqui nasceu.
A trama urbana se fixou em diferentes pontos do DF e algo importante aconteceu: as regiões administrativas desafogaram a pressão por moradia no Plano Piloto de Brasília, que é o núcleo central do espaço urbano do DF. Por abrigar os poderes da república e do GDF, o Plano Piloto de Brasília requer esforços para sua preservação. Esta é uma necessidade porque, desde 1987, se constituiu em Patrimônio Monumental da Humanidade, título conferido pela Unesco, instituição da ONU. Por esta razão, a necessidade de preservação do Plano Piloto se estabeleceu como ação prioritária para conter possíveis demandas que mudem a configuração urbana efetivada com sucesso. Para esse fim, um grupo de pessoas interessadas neste propósito se reúne no Instituto Histórico e Geográfico do DF (IHG/DF) para debater as diversas características e ações necessárias para a preservação do Plano Piloto de Brasília.
As atitudes para preservar o núcleo histórico é recomendável, pela excelência do urbanismo de Lucio Costa e da arquitetura de Oscar Niemayer, ambos de grande interesse e expressão nacional e internacional. Por essa razão, nenhuma alteração do que foi estabelecido deverá ser modificado. Como está no título “preservar abrigos é necessário” e também importante para as futuras gerações. Obras geniais a serem admiradas e mantidas para o futuro. É o que desejam todos que assim seja.
ALDO PAVIANI, geógrafo, professor emérito e professor titular da Universidade de Brasília, membro da Associação Nacional de Escritores (ANE) e do Instituto Histórico e Geográfico do DF (IHG/DF)
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