“Uma nação é um sistema de segredos”
José Ortega Y Gasset, filósofo espanhol
O assassinato de Fernando Villavicencio, então terceiro colocado a presidente do Equador nas pesquisas eleitorais, por narcotraficantes é um duro golpe na imagem da América Latina perante o restante do planeta. Como representantes de uma das maiores quadrilhas do país assumiram a autoria do crime, a impressão que se passa é que a região é regida pela lei do mais forte, ou seja, uma espécie de velho oeste moderno.
A violência política é histórica em regimes democráticos da América Latina. Há casos, por exemplo, de três candidatos terem sido assassinados durante a disputa pela Presidência da Colômbia, entre agosto de 1989 e abril de 1990, em um dos períodos mais sangrentos da história do nosso vizinho sul-americano. No México, a execução de um presidenciável em 1994 continua sem solução até hoje. Temos vistos nos últimos tempos, no entanto, uma escalada nos atentados contra a classe política, com muito deles sendo filmados, o que aumenta o impacto na opinião pública.
Em setembro do ano passado, a vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, escapou de uma tentativa de assassinato depois que um atirador a ameaçou à queima-roupa. A arma não disparou. No ano anterior, em plena pandemia, o presidente do Haiti, Juvenel Moïse, acabou morto a tiros dentro de casa. Entre 2019 e 2020, ex e rebeldes das Farc atacaram inúmeras autoridades colombianas.
No Brasil, a facada sofrida pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, durante a campanha presidencial de 2018 em Juiz de Fora (MG), é o caso mais emblemático. O cenário, entretanto, apresenta-se muito mais grave. Estudo da UniRio, realizado no ano passado, aponta que a violência política cresceu 335% entre 2019 e 2022. Ao menos 45 candidatos a cargos públicos perderam a vida durante a campanha. A lista de crimes inclui ameaças, homicídios, atentados, homicídios de familiares, sequestros e sequestro de familiares de lideranças políticas. É, sem dúvida, um cenário assustador.
Até 2017, o Equador — um dos países mais lindos do mundo e extremamente cobiçado pelas suas imensas riquezas minerais — era apontado como o segundo país mais seguro da América Latina. A onda de violência registrada lá é recente e muito grave. Se tal cenário se replicar por toda a região, viveremos tempos ainda mais sombrios em breve. É necessário, então, um projeto de paz e unidade. Quem assumirá esse papel na América Latina?
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