Desde meados de 1990, estas páginas do Correio Braziliense registraram o talento, a precisão e o profissionalismo de Dad Abi Chahine Squarisi. Editora de Opinião durante mais de duas décadas neste diário, a jornalista cumpria com maestria o ofício de escrever o posicionamento institucional do veículo que integra os Diários Associados. É preciso medir as palavras, encontrar o tom adequado, buscar a linha correta para transmitir o ponto de vista da imprensa profissional, muitas vezes sobre temas complexos e espinhosos. Dad Squarisi, porém, executava a tarefa com a qualidade que a marcou por toda a vida: elegância.
A produção de editoriais. A seleção de cartas e desabafos dos leitores. O rigor com a extensão e a integridade dos artigos diários enviados à Redação. Dad era detalhista, cuidadosa, observadora. Encontrava tesouros nas minúcias. Tinha predileção por frases curtas. Essas características deram ao trabalho de Dad uma capacidade de comunicação ímpar. Não por acaso, ela é autora das duas edições do Manual de Redação do Correio. Professora com formação em Letras e Linguística, era capaz de publicar diversas edições de sua coluna "Dicas de Português" com comentários em série sobre crase. Ou discorrer, ainda, sobre estilo na redação. Gostava de recomendar, aos leitores e colegas de profissão, as três principais qualidades do texto. "Clareza, clareza e clareza".
Com estilo inconfundível e uma fineza no trato pessoal, a mestra angariou um leque de admiradores, alunos, fãs, seguidores. Ao longo desta quinta-feira, personalidades que faziam parte do círculo social de Dad — como o ex-presidente José Sarney — manifestaram pesar pelo falecimento da professora, amiga, jornalista, escritora, contadora de histórias, brasiliense de coração. Dad Squarisi sempre tinha um ponto sutil a destacar, uma delicadeza a manifestar em discussões por vezes áridas. Era uma professora inata. Ao fim de cada conversa com ela, o interlocutor saía com um ensinamento. Conviver com Dad era um aprendizado permanente.
Como jornalista e funcionária do Correio Braziliense, compreendeu e explicou aos colegas de profissão os impactos decorrentes do avanço da tecnologia no dia a dia de uma Redação. Um dos pontos marcantes nessa trajetória foi a iniciativa de orientar repórteres e editores a escrever para a internet. Como observou o presidente do Correio, Guilherme Machado, nos últimos meses ela vinha se dedicando ao estudo de ferramentas de inteligência artificial para o ensino de língua portuguesa. Fiel aos clássicos, Dad não temia o futuro. Sempre estava aberta para o novo, para a mudança, para o inaudito. Era sempre positiva, apesar das vicissitudes da vida. E foi assim até ontem, quando se despediu da legião de amigos, admiradores e familiares.
É extenso e duradouro o legado de Dad Squarisi para o patrimônio cultural de Brasília. A contribuição inestimável ao jornalismo e à educação — duas atividades tão sacrificadas ao longo dos últimos anos — tornou a professora uma referência a quem preza a língua portuguesa, o trabalho da imprensa e a capital da República. Por tudo que esta libanesa de vínculo eterno com Brasília nos ensinou e sempre ensinará, há apenas uma frase a ser dita. Muito obrigado, Dad.
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