As eleições para renovação dos Conselhos Regionais de Medicinas (CRMs) em todo o Brasil estão se aproximando. A expectativa é muito grande na maioria dos Estados e no Distrito Federal (DF) e o motivo não é difícil de se entender. Vivemos durante a pandemia da covid-19 a maior e pior crise sanitária dos últimos cem anos. Milhões de mortes por todos os continentes.
No Brasil, alcançamos números assustadores, devido ao posicionamento negacionista de médicos que atuaram junto às autoridades de saúde defendendo práticas antiéticas, anticiência, que abalaram a credibilidade e dignidade da classe médica, com o apoio do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da maioria dos CRMs, inclusive o do DF. Somos 2,5% da população mundial e tivemos 11% das mortes do mundo, mais de 700 nuk mortes.
Os Conselhos, como autarquias para proteção da sociedade da má prática médica e de médicos, endossaram propostas sem fundamentação científica, se contrapondo a decisões de órgãos internacionais como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), das quais o Brasil é signatário.
Associaram-se a posições oficiais do Ministério da Saúde, na contramão do mundo, como o não apoio ao uso de máscaras, à necessidade de se fazer lockdown, a se posicionar contra as vacinas desenvolvidas rapidamente pelos laboratórios estrangeiros e nacionais, de instituições centenárias no campo da saúde pública, como Bio-Manguinhos e Butantã, e ao propor o “kit” para tratamento da covid-19, sem respaldo científico.
Para a população brasileira ficam as perguntas: quantas mães, pais, filhos, netos, esposas, maridos, amigos queridas/os, não estão hoje desfrutando da vida, pelas atitudes negacionistas, sem base científica e antiéticas, que aumentaram o número de pessoas expostas ao vírus, contaminadas e sequeladas, e o número de mortes na nossa população?
Como ficar indiferente a posição de órgãos que têm como principal dever cuidar da boa Medicina, da reputação da Medicina, para proteger a sociedade de maus médicos, que se coaduna com esse tipo de conduta profissional, numa profissão alicerçada na ciência, na ética e no humanismo?
Medicina é ciência! Defendemos, sim, a autonomia médica, baseada nas evidências científicas e não no negacionismo científico.
Medicina é ética! Sem ética não há Medicina. Propagandas enganosas, promessas que não podem ser cumpridas, mentiras sobre procedimentos/tratamentos divulgadas por médicos, não é Medicina, não é ética. Essa é a nossa luta!
Medicina é cuidar! Inclusive, dos médicos. Por isso, defendemos as boas condições de trabalho, de carreira e remuneração.
Medicina é coisa séria! Não é clube, não é sindicato para reivindicar benesses. Defendemos a boa Medicina e, por isso, também a boa formação profissional, com boas escolas médicas, especialidades, residências e revalida com prova.
Temos convicção de que as eleições para renovar os CRMs interessam à sociedade. A sociedade precisa de um CRM que defenda a boa prática médica alicerçada na ciência, ética e dignidade do trabalho médico. Uma prática que proteja a sociedade de procedimentos e prescrições que possam ter risco acrescido para os pacientes, seja por não serem reconhecidos oficialmente, seja por serem realizados por quem não é reconhecido oficialmente pelas especialidades médicas.
SAMUEL DOMINGUES, médico cirurgião plástico
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