No exercício do jornalismo, algumas pautas nos atravessam com uma frequência maior do que gostaríamos, e essa é uma realidade que escapa à nossa vontade. Um exemplo forte é a violência contra a mulher, uma rotina comum nos lares brasileiros que chega, exponencial e lamentavelmente, à tragédia do feminicídio. Somente este ano, no Distrito Federal, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF), foram 22 casos — um número que já ultrapassou a marca das 16 vidas femininas perdidas em todo o ano passado.
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Ainda que a tese da defesa da honra tenha sido declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF), infelizmente, vivemos em uma sociedade ainda dominada pelo machismo que, em boa parte, culpa a vítima pelo seu trágico desfecho. Tantas vezes essa mulher é condenada por não ser submissa ao homem, pelos ciúmes que ele sente com base nas vestimentas dela, enfim, por não corresponder à expectativa do que foi determinado, ao longo dos séculos, pelo patriarcado. Muitas vezes, elas têm suas vidas arrancadas brutalmente por simplesmente dizerem não. E esse terrível fim embasa, erroneamente, um ciclo que inibe outras mulheres na mesma situação de abusos e agressões de denunciarem os companheiros e que as conduz ao júri implacável daqueles que as acusam por terem medo de morrer, em vez de serem acolhidas em suas vulnerabilidades.
A transformação social, por meio da formação de opiniões, é um dos papéis intrínsecos ao jornalismo. A forma como produzimos nossos conteúdos, no trato da notícia, é determinante para que os conceitos sejam moldados na sociedade que nos cerca. E foi pensando nessa responsabilidade e nesse compromisso que o Correio convidou, na semana passada, coincidentemente no dia em que o 22º feminicídio do ano ocorreu, a advogada Cristina Tubino, presidente da Comissão de Combate à Violência Doméstica e Familiar da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF), para conversar com a equipe da redação sobre as abordagens possíveis nesses casos.
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Um encontro rico, altamente frutífero, que nos mostrou o quanto ainda somos, enquanto indivíduos, carentes de informações e, em situações mais extremas, de uma certa empatia. Ao longo dos anos, são notórios os casos em que o jornalismo, no momento de redigir um texto, publicar uma foto, produzir uma manchete, reforçou, ainda que involuntariamente, uma suposta culpa imputada à vítima e até um heroísmo que agracia o agressor.
São pequenas sutilezas que, líquidas, escorrem pelos nossos dedos. Mas, por aqui, procuramos solidificá-las para aprender com eventuais erros e acertar cada vez mais. A nós, não cabe banalizar esses crimes; é nosso papel trabalhar a notícia de forma honesta e responsável, com razão e sensibilidade.
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