A morte de 10 pessoas no litoral de São Paulo durante uma operação policial em resposta ao assassinato de um PM reabre, em boa hora, a discussão sobre a importância de câmeras nas fardas dos militares. É o tipo de medida que precisa ser adotada com rapidez no país de forma universal, afinal todos tendem a ganhar: os agentes de segurança e, principalmente, a sociedade civil organizada.
Sabe-se até agora que apenas quatro dos pelo menos 20 policiais envolvidos nas mortes no Guarujá estavam com câmeras corporais. É um número bem baixo, sem dúvida. Sem edição, a gravação vai mostrar certinho o que ocorreu, com data e hora. É de grande valia para a investigação, além de ajudar a apontar para a população o quanto os policiais estão preparados para agir no dia a dia.
Exemplos não faltam para mostrar o tanto que a filmagem corporal lança luz sobre o que ocorreu em abordagens policiais polêmicas. É o caso do americano George Floyd, sufocado até a morte pela polícia dos EUA em maio de 2020, gerando uma onda de protestos globais contra o racismo e a violência policial. O vídeo captado pela câmera da Polícia de Minneapolis mostrou Floyd implorando aos policiais enquanto era detido.
Já estudos acadêmicos sinalizam que o uso de câmeras resulta também em uma melhora na qualidade dos dados reportados pelos policiais, com maior produção de boletins de ocorrência encaminhados à Polícia Civil. A utilização da gravação da ação policial contribui também para a redução da violência doméstica, como pudemos ver durante o Correio Debate: Combate ao Feminicídio, realizado há duas semanas pelo jornal.
"Aquela denúncia sobre violência doméstica que não resultaria em ocorrência nenhuma passou a ser registrada porque o policial toma mais cuidado em cumprir o protocolo. O feminicídio não acontece de uma vez só, é o resultado final de uma violência que vai escalonando. Se essa violência é interrompida lá no início, estamos salvando vidas!", reforçou, ontem, o secretário nacional de Acesso à Justiça, Marivaldo Pereira.
No Congresso, a bancada da bala se movimenta para tentar barrar o protocolo nacional, que está em elaboração pelo Ministério da Justiça, para uso de câmeras nos uniformes dos policiais militares. A decisão de usar ou não o equipamento cabe aos estados, mas o governo Lula aposta na criação de regras como uma forma de diminuir o tabu e incentivar a adoção do equipamento. Os parlamentares tentarão evitar a medida a todo custo, mas é o tipo de ação que se mostrará infrutífera cedo ou tarde. Com a inovação tecnológica, as câmeras estão espalhadas pela sociedade. Para chegar a todas as patrulhas e fardas, é apenas questão de tempo. Aliás, já passou da hora.
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