O cenário econômico do Brasil tem sido marcado por desafios significativos nos últimos anos. O principal deles foi a pandemia de covid-19, cujas consequências ainda são sentidas na sociedade e na vida financeira dos cidadãos comuns. Muita gente perdeu emprego e fonte de renda, e acabou se vendo obrigada a recorrer a empréstimos para garantir a sobrevivência básica de seus familiares. O resultado não poderia ser diferente: a inadimplência cresceu e o endividamento chegou a 78,5% das famílias brasileiras, segundo dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada em junho pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O número é o maior da série histórica iniciada em janeiro de 2010 e apurada mensalmente pela CNC.
Por isso, os números iniciais do programa Desenrola, do governo federal, mostram que a iniciativa não é só bem-vinda, como necessária. A medida busca criar um "mutirão de renegociação", para resolver pequenas dívidas e limpar o nome dos consumidores no mercado. Como contrapartida, as instituições financeiras que aderiram ao programa devem retirar o nome do cadastro negativo das pessoas com débitos de até R$ 100 — a dívida, porém, segue ativa.
O programa começou no último 17 de julho — antes, alguns bancos já estavam fazendo renegociações por conta própria — e os resultados, até agora, são auspiciosos. A projeção do Ministério da Fazenda era que 1,5 milhão de pessoas acessariam o programa — a meta foi batida logo na primeira semana. Segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), nessas duas semanas, foram renegociados R$ 2,5 bilhões em 400 mil contratos de dívida e, 3,5 milhões de pessoas que deviam até R$ 100 tiveram a negativação de seus nomes retirada.
O resultado promete ter um resultado mais interessante ainda, uma vez que, por enquanto, só está valendo a Faixa 2 do programa, que atende pessoas que estavam negativadas até 2022 e ganhem entre dois salários mínimos e R$ 20 mil por mês. A Faixa 1, que começa a partir de setembro, vai atender a população com renda de até dois salários mínimos (R$ 2.640) e inadimplentes não só com bancos, mas também com grandes varejistas e companhias de água, gás e telefonia.
Por enquanto, é possível avaliar três benefícios causados pelo programa. O primeiro é o óbvio impacto econômico positivo, estimulando o consumo e fortalecendo o comércio. Quando as pessoas têm seus nomes retirados do cadastro negativo, elas ganham confiança para retomar o consumo de bens e serviços essenciais, movimentando a economia em um ciclo virtuoso. O aumento da demanda impulsiona as vendas e, consequentemente, a geração de empregos e a renda, impulsionando setores diversos.
O segundo é a oportunidade genuína para que os cidadãos reorganizem suas finanças e se conscientizem sobre o uso responsável do crédito. O acesso ao crédito é uma ferramenta poderosa para o crescimento individual e coletivo, mas seu uso inadequado pode levar a endividamentos desnecessários e a um retorno ao cenário de inadimplência. Por fim, sinaliza que o governo está atento para as dificuldades enfrentadas pela população nesta longa retomada da vida pós-pandemia. Nesse caso, todo esforço ajuda.
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