Na matéria Um ambiente menos hostil à diversidade, que assinei com Lara Costa, publicada ontem no caderno Trabalho e Formação Profissional, o Correio coloca luz em um assunto que se faz, ainda, muito necessário debater. A partir de um levantamento da plataforma Vagas.com — que aponta o aumento de 2% no anúncio de vagas destinado ao público LGBTQIAPN+ — e do anúncio do presidente Lula sobre a reserva de cotas para pessoas transexuais ao cargo de auditor-fiscal do trabalho em concurso público, conversamos com especialistas em carreiras e algumas pessoas que pertencem à comunidade simbolizada pelo arco-íris. A percepção é unânime: mais que inserir as minorias no mercado formal, é necessário que a diversidade seja incluída de forma efetiva nas organizações.
Avanços não devem ser minimizados. De um modo geral, a sociedade tem aberto os olhos para a necessidade de abrigar a agenda da diversidade. Após séculos de patriarcado branco, heterossexual e cristão, as mulheres, os negros, os gays e os professadores de outras fés têm encontrado um espaço maior de pertencimento. Amplos debates têm colocado o preconceito e a intolerância como politicamente incorretos. Mas a sociedade deve assimilar que essas práticas são, na realidade, criminosas.
Ainda que combatido de forma global, o mal ainda dispõe de uma raiz forte. Em especial no contexto vivenciado pelas pessoas trans, que passam, muitas vezes, pelo filtro parcial, inclusive, dentro da própria comunidade. O senso comum nos acostumou a enxergar a letra T da sigla em um lugar de marginalidade e de maior perversão. Aceita-se no time o profissional homossexual — se for discreto, melhor ainda. Mas aquele que passou por uma transição de gênero encontra olhares de estranheza e barreiras até para utilizar um banheiro.
Curioso observar que na cultura hindu — mais conhecida pela sua tradição rigorosa —, os transexuais são mais bem-aceitos que os gays e as lésbicas. Mais que isso, as hijras (homens castrados que se vestem de mulheres) são historicamente consideradas sagradas. Elas são chamadas, muitas vezes, para celebrar uniões matrimoniais na Índia. No Paquistão, elas ocupam lugar de destaque na política. Vejam o paradoxo. Logo o Brasil, o país do carnaval, é o que mais comete transfobia.
Políticas públicas e organizacionais devem, sim, incentivar que os indivíduos transgêneros encontrem ambientes menos hostis na vida social e profissional. Que essa questão de masculino e feminino deixe de ser uma referência curricular e, acima de tudo, que a intolerância pare de silienciar essas existências.
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