Símbolo da mais poderosa indústria do audiovisual mundial, Hollywood está parada. Na última sexta-feira (14), o Screen Actors Guild-American Federation of Television and Radio Artists (SAG-Aftra), sindicato que representa mais de 160 mil atores, decidiu que a categoria deveria se juntar aos roteiristas, parados desde maio e cruzar os braços. É a primeira greve de atores nos últimos 40 anos, e a primeira pausa completa desde 1960. Várias produções em andamento agora estão totalmente paradas. A decisão impacta diretamente títulos como as séries Stranger Things, The Handmaid’s Tale e Yellowjackets e os filmes Deadpool 3 e Gladiador 2, entre diversos outros.
Oficialmente, o motivo da paralisação envolve o pagamento dos chamados “residuais”, espécie de royalties que os envolvidos nos filmes e séries têm direito a receber toda vez que o trabalho volta a ser exibido na TV, ou das vendas de DVDs, blu-rays e demais mídias físicas. O problema é que, com o streaming, não é possível cravar o número exato de exibições extras, o que gerou o impasse com os grandes estúdios.
Apesar de interessante – como tudo que envolve Hollywood –, a luta pelos residuais é uma negociação trabalhista comum. O que chama mesmo atenção, porém, é o outro ponto que vem sendo discutido entre as partes. Os atores rejeitam uma proposta que os estúdios chamaram de “inovadora”: serem substituídos por réplicas digitais. Segundo o diretor-executivo do sindicato, Duncan Crabtree-Ireland, a ideia é que os atores fossem pagos por um dia de trabalho e escaneados, e a imagem digital gerada poderia ser usada indefinidamente pelos produtores. A sugestão afetaria principalmente atores secundários e figurantes, que formam a maioria dos 160 mil representados pelo sindicato. Já no caso dos roteiristas, há o temor de que a inteligência artificial seja usada para criar roteiros do zero, com escritores humanos sendo usados apenas para ajustes pontuais – e obviamente ganhando bem menos.
A possibilidade de substituir atores por réplicas digitais levanta questões éticas e profissionais, já que o talento e a habilidade de interpretar são características únicas dos seres humanos. Além disso, a utilização da inteligência artificial na criação de roteiros levanta preocupações sobre a criatividade e originalidade das histórias contadas.
O cabo de guerra entre atores e roteiristas de um lado, e estúdios do outro, antecipa o que será a grande discussão sobre o futuro do trabalho nos próximos anos (meses?): a substituição da mão de obra humana pela inteligência artificial. O que for definido após essa desgastante batalha vai servir como referência para todas as outras áreas envolvidas no mercado de trabalho, uma vez que a indústria do entretenimento costuma ser pioneira em muitas tendências.
O futuro do trabalho dependerá do equilíbrio encontrado entre o uso da inteligência artificial e a preservação das habilidades humanas. Já que o avanço tecnológico é inevitável, como a própria presidente do SAG-Aftra, a atriz Fran Drescher – que ganhou fama na série The nanny — reconheceu, é fundamental estabelecer regulamentações e diretrizes claras. É o único meio para garantir que as inovações não comprometam a integridade e os direitos dos profissionais envolvidos nas áreas em que elas estão presentes com cada vez mais força.
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