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Artigo: A política e suas sutilezas

Esperamos que a sutileza, tão própria da política, dê o ar da graça aqui e ali, deixando viva a ideia de que Brasília não pode ser saqueada

O japonês Oscar Motomura, mestre dos mestres da Amana-Key, que realiza um programa de gestão empresarial para líderes bastante inovador, costuma falar que a arte de viver sugere observar as sutilezas. E como o dia a dia nos apresenta sutilezas o tempo todo! Lembrei disso na última semana, especialmente movimentada por acontecimentos políticos em Brasília.

Sim, foi a semana da Brasília política — da rodoviária pra cima ou pra baixo. A semana em que vimos o Fundo Constitucional do DF, que nos mobilizou tanto no último mês, ficar para depois. Mas que uma reforma tributária adiada por décadas caminhou no Congresso conduzida por aqueles, que há pouco tempo, eram adversários políticos.

A política, de fato, é a arte da sutileza. Um tanto de emendas liberadas, para cumprir a providencial agenda de benesses a políticos em dúvida. Mais um tanto de conversas ao pé do ouvido e de sola de sapato gasta nas idas e vindas ao Congresso rendeu ao governo Lula uma vitória com folga na Câmara dos Deputados.

Pesquisa da Quaest, que mediu citações nas redes sociais, apontou que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e Arthur Lira, presidente da Câmara, receberam a maioria de avaliações elogiosas. O mesmo, embora em menor proporção, favoreceu o presidente Lula. Não há dúvida sobre o protagonismo de Lira e Haddad, que também se rendeu ao empenho de Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo.

Apesar de hostilizado pela claque de Bolsonaro, Tarcísio cedeu à reforma e trabalhou por ela, mesmo incomodando a quem lhe emprestou capital político e apoio para se eleger no estado mais influente da federação brasileira. Tarcísio explicou com a lógica da melhor política — é uma reforma de Estado e não de governo, e esta é uma das sutilezas que escapa à compreensão de muitos.

Com essa prioridade de agenda, a reforma tributária ofuscou o debate sobre o Fundo Constitucional. Há quem ache que está pacificada a ideia de retirá-lo do projeto do arcabouço fiscal, mas de volta à Câmara Federal, nunca se sabe se a vitória no Senado será repetida na Câmara, de onde partiu o acinte do sequestro às finanças do DF.

Até agosto, a fogueira apagou. É preciso soprar a faísca e continuar as tratativas mesmo durante o recesso. Em banho-maria, tudo se amorna. Esperamos que a sutileza, tão própria da política, dê o ar da graça aqui e ali, deixando viva a ideia de que Brasília não pode ser saqueada. Contamos com a astúcia dos nossos representantes por aqui. Que haja o mesmo empenho gasto para aprovar a reforma tributária!

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