Os grandes escritórios da maior parte das cidades do mundo continuam vazios. O abandono desses espaços se deve, basicamente, à pandemia do coronavírus, que forçou as empresas a adotar o trabalho remoto de forma repentina. O sucesso foi amplamente festejado: a adaptação foi rápida e salvou milhões de empregos.
Entretanto, as notícias mais recentes dão conta de uma possível reversão dessa tendência. As gigantes das tecnologias digitais — Apple, Google, Meta, bancos, seguradoras, agências de turismo e outras — estão decididas a trazer de volta a sua força de trabalho para os ambientes convencionais. Há muitos sinais de reocupação dos escritórios e a limitação do trabalho remoto para apenas um dia da semana — sistema híbrido.
Vários fatores explicam essa reversão. Em primeiro lugar, estão sendo reconsiderados os ganhos de produtividade do trabalho remoto encontrados nas primeiras avaliações. Usando uma metodologia mais robusta, estudos recentes estão revelando que aqueles ganhos são ilusórios. Na maior parte dos casos, a produção aumentou porque os profissionais trabalharam mais horas em casa ou no hotel. Quando se analisa com cuidado a produção por hora trabalhada remotamente e a qualidade do trabalho realizado, os resultados decepcionam (The working from home illusion fades, The Economist, 1/7/2023).
Em segundo lugar, está ficando cada vez mais claro que o trabalho remoto, realizado de forma isolada e sem interação social, empobrece o capital humano das empresas pela falta do feedback imediato e repetido que ocorre nas relações presenciais. Depreciar o seu capital humano é o último desejo das empresas que, em vista das transformações tecnológicas em andamento, precisam de pessoas que pensem bem e rápido para propor inovações no trabalho e que se ajustem rapidamente aos desafios crescentes dos negócios modernos.
Em terceiro lugar, pesquisas recentes têm mostrado que a falta do contato face a face e de forma continuada é um sério inibidor da criatividade. As teleconferências por zoom, teams e outras plataformas não geram as boas ideias que, normalmente, emergem nas reuniões presenciais, em que todos se observam mutuamente e aproveitam o ambiente de contágio social para somar, corrigir e inovar. Finalmente, os pesquisadores descobriram o óbvio, ou seja, que os seres humanos não vivem só de produtividade, mas valorizam momentos felizes e agradáveis que raramente ocorrem na solidão do trabalho remoto ou nos contatos fortuitos das reuniões virtuais.
Nada disso anula as vantagens do trabalho remoto: economias para as empresas, sossego para os funcionários, descongestionamento de trânsito, redução da poluição e melhor entrosamento com a família. Mas essas vantagens não conseguem compensar as perdas. O próprio trabalho híbrido, no qual a maior parte das atividades é realizada nos escritórios, vem sendo questionado quando se leva em conta os alertas. A inibição da criatividade e a depreciação acelerada do capital humano são problemas muito sérios para as empresas e para os próprios funcionários que, no médio prazo, perdem a sua capacidade de trabalhar. Portanto, não será surpresa se em dois ou três anos os nossos escritórios lotarem novamente. Quem viver verá.
JOSÉ PASTORE, professor da Universidade de São Paulo e presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da Fecomercio-SP. Integrante da Academia Paulista de Letras