São muitos e bons momentos guardados na memória, relacionados aos shows que assisti ao longo de quase cinco décadas, como repórter do Correio Braziliense. Alguns são ainda mais marcantes, entre eles Refazenda, de Gilberto Gil, apresentado, em 1975, no ginásio de esportes do Colégio Marista, na 609 Sul.
O repertório trazia belas canções entre as quais Meditação, O rouxinol, Pai e mãe, Retiro espiritual, e aquelas que viriam a se tornar clássicos da MPB, como e Eu só quero um xodó e Lamento sertanejo (composições de Dominguinhos) e, claro, a que dava título ao espetáculo.
Mas a que levou as três mil pessoas presentes ao impacto foi Não chore mais, versão de Gil para No woman, no cry, de Bob Marley. À época, o país vivia um período sombrio, sob a ditadura militar, e um dos versos da música trazia denúncia explícita: "Amigos presos, amigos sumindo assim/ Pra nunca mais".
O que me fez recordar desse show foi o lançamento de Refazenda, novo livro da coleção Discos da Música Brasileira, das Edições Sesc, que investiga a vida e a trajetória musical do eterno tropicalista. O foco é no álbum que inaugurou a trilogia Re, da qual fazem parte também os álbuns Refavela e Realce, entremeados por Refestança — registro do encontro de Gil com Rita Lee.
De autoria da jornalista e pesquisadora Chris Fuscaldo, a obra focaliza um LP que marcou a produção nacional, pela estética e questões sociais e políticas. Pautado por uma linguagem clara e direta, integra a série organizada pelo jornalista e crítico musical Lauro Lisboa Garcia, que assina o prefácio.
Chris Fuscaldo esteve em Brasília no primeiro semestre, acompanhando Márcio Borges, no lançamento do livro De tudo se faz canção: 50 anos do Clube da Esquina, no Feitiço das Artes, na 306 Norte. Membro da Academia Niteroiense de Letras, ela assina a curadoria do museu virtual O Ritmo de Gil, que hospeda no Google e no Arts & Culture.