Uma semana de tristezas e luto. Embora não tenha conhecido nenhuma das vítimas da covardia masculina, fico imaginando a dor dos órfãos, da família e dos amigos ante o hediondo assassinato de uma mulher pelo companheiro. Em seis meses, 20 mulheres foram executadas cruelmente na capital da República. No ano passado inteiro, foram 17.
Se atribuíssemos o ato à insanidade momentânea, estaríamos quase que inocentando o assassino. Não foi só um ataque de fúria, em que, como se costuma dizer, "ele perdeu a cabeça" ou foi "um desatino". O feminicídio é o último degrau de uma sequência de episódios de violência, em que as mulheres são depreciadas, agredidas e, finalmente, mortas pelo estúpido e boçal ex ou atual companheiro.
A "coisificação"da mulher, que a torna objeto de propriedade do homem, resulta do machismo, mas, sobretudo, do modelo patriarcalista, ainda dominante no país.
As mulheres continuam desprezadas e ofendidas, dentro e fora de casa. O patriarcalismo e o machismo insurgem-se contra a equidade de gênero e as leis. Fora de casa, ainda que tenha maior ou igual formação profissional, o salário da mulher é inferior. Os homens ainda são vistos como os bam-bam-bans. Ou seja, o melhor naquilo que faz. Essa compreensão ultrapassada e traiçoeira reforça e desperta a violência latente dentro do indivíduo.
O poder público, por sua vez, se revela incapaz de conter a violência contra a mulher, não só na capital da República, mas em todos os estados. Os atuais mecanismos para punir os agressores têm se revelado ineficientes. As medidas protetivas, deferidas pelo Judiciário, são desrespeitadas, e, praticamente, nada é feito.
A inferiorização da mulher começa dentro de casa, quando os homens são poupados dos afazeres domésticos — lavar, passar, cozinhar, limpar a casa, cuidar dos filhos e outras tarefas — entendidos como "coisas" de mulher. Há muito ela deixou de ser a doméstica de cama e mesa. Hoje, as mulheres trabalham e, tanto quanto os homens, contribuem para o orçamento do lar. Os abrigos de proteção da mulher chegam a ser uma injustiça. Ela e os filhos são obrigados a deixar sua casa para se proteger do agressor em um ambiente que não é deles. Uma fuga, como se fossem os marginais da história. Por que não levar o homem para um abrigo de reeducação e punição pelos seus atos violentos? É concreta a inversão de valores. Por que, ao afrontar a medida protetiva, o homem não ganha uma tornozeleira eletrônica, a fim de que seja vigiado e contido ao se aproximar da vítima?
O Distrito Federal tem 35 regiões administrativas, mas só há duas delegacias da mulher: uma na Ceilândia e outra no Plano Piloto. Parece evidente que este número é insuficiente, uma vez que a violência doméstica se espraia por todas as cidades. Não tenho conhecimento das estratégias da segurança pública, mas o aumento de casos de feminicídios indica que o poder público precisa rever suas táticas para evitar que ocorram mais vítimas. Faltam campanhas que levem a mulher a denunciar a violência; despertem a sororidade de vizinhas, de amigas e da família para que denunciem os agressores, antes que seja tarde demais. Em briga de marido e mulher, mete-se a colher.