Editorial

Visão do Correio: Centro-Oeste muda a cara do Brasil

Desde 2010, o número de cidadãos que vivem no Centro-Oeste avançou, em média, 1,2% ao ano, mais que o dobro da média nacional, de 0,52% — a menor da história, segundo o IBGE

Os dados do Censo de 2022 confirmaram o Centro-Oeste como a nova fronteira econômica do Brasil. Não por acaso, a região tem atraído cada vez mais habitantes, destoando das demais áreas do país, que veem a população estagnar ou mesmo encolher. Desde 2010, o número de cidadãos que vivem no Centro-Oeste avançou, em média, 1,2% ao ano, mais que o dobro da média nacional, de 0,52% — a menor da história, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse processo de interiorização do Brasil, dizem especialistas, é irreversível. Além de trabalho, as pessoas estão buscando melhores condições de vida.

O Centro-Oeste está sendo impulsionado pelo agronegócio, que cresce a taxas expressivas ano a ano. O Brasil figura entre os três principais produtores de alimentos do mundo e é na região que está a maior área agricultável do planeta. Para sustentar o plantio e a colheita, os produtores têm sido obrigados a investir cada vez mais na tecnologia e na contratação de mão de obra especializada. Em determinadas cidades, há falta de trabalhadores, ao contrário do que ocorre nas periferias das grandes cidades, em que o desemprego encosta nos 10% e a violência é uma rotina que atormenta as famílias.

Dois dos principais exemplos de debandada da população são Salvador, que, em uma década, perdeu quase 10% de sua população, e Rio de Janeiro, que encolheu em quase 110 mil habitantes. Essas capitais estão entre as mais violentas do país e as que ostentam índices de desocupação acima da média nacional. Em contrapartida, duas das quatro cidades que mais cresceram em termos populacionais estão no Centro-Oeste — Senador Canedo (Goiás), onde o número de habitantes avançou 84,3%, e Sinop (Mato Grosso), com salto de 73,4%. Os outros dois municípios ficam em regiões produtoras de grãos: Luís Eduardo Magalhães (Bahia), que ganhou 79,5% a mais de moradores, e Fazenda Rio Grande (Paraná), com alta de 82,3%.

O agronegócio não movimenta apenas o campo. Com a renda gerada pelo plantio, toda a economia dos municípios produtores de alimentos se movimenta, puxando, sobretudo, o setor de serviços, com especial destaque para o comércio. O impacto também se irradia pelo setor público, que é obrigado a ampliar o quadro do funcionalismo para atender a demanda maior por serviços. É aí que reside o principal desafio das administrações: garantir que, com o afluxo maior de pessoas, as condições de vida que todos valorizam não se degradem. Saúde, educação, infraestrutura e segurança exigem cada vez mais investimentos.

Encravada na região, Brasília também se beneficia do potencial agrícola, registrando os maiores índices de produtividade de grãos por hectare do país. A cidade já é a terceira do Brasil em termos populacionais, atrás apenas de São Paulo e do Rio de Janeiro. É fundamental, portanto, que o Congresso mantenha os repasses para o Fundo Constitucional do Distrito Federal. Qualquer alteração na transferência de recursos por parte da União significará menor capacidade do governo local de garantir atendimento em hospitais, postos de saúde, escolas e bem-estar social. A geografia do Brasil mudou e isso deve ser levado em conta pelos gestores.

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