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Afeganistão

Artigo: Pelas mulheres afegãs

Em 15 de agosto, serão completados dois anos em que o Afeganistão voltou a mergulhar nas trevas. O retorno do Talibã ao poder rompeu duas décadas de uma democracia frágil e difusa, porém eficiente

O retorno do Talibã ao poder rompeu duas décadas de uma democracia frágil e difusa, porém eficiente -  (crédito: Hoshang Hashimi/AFP)
O retorno do Talibã ao poder rompeu duas décadas de uma democracia frágil e difusa, porém eficiente - (crédito: Hoshang Hashimi/AFP)
postado em 26/07/2023 06:01

Em 15 de agosto, serão completados dois anos em que o Afeganistão voltou a mergulhar nas trevas. O retorno do Talibã ao poder rompeu duas décadas de uma democracia frágil e difusa, porém eficiente. Aos poucos, o fanatismo religioso e a interpretação distorcida do Corão tornaram 39,2 milhões de pessoas reféns da milícia fundamentalista islâmica, que não tardou em impor seus dogmas aos afegãos. Machista, misógino e ultraconservador, o Talibã decretou uma vida de horror às mulheres. Os milicianos as impediram de frequentar a universidade e de trabalhar para organizações não governamentais no Afeganistão. Também as impediram de viajar pelo país sem estarem acompanhadas de um homem. As escolas secundárias para garotas foram fechadas. 

Os absurdos não param por aí. As mulheres estão proibidas de frequentarem espaços públicos no Afeganistão. Uma das últimas medidas anunciadas pelos talibãs foi o fechamento dos salões de beleza em todo o território nacional.  Em resumo, o Talibã impõe a elas a completa anulação, tratam-nas como se fossem um câncer a ser extirpado da sociedade, reduzem-nas à subserviência ao marido e ao quase completo isolamento social. A comunidade internacional assiste a tudo de braços cruzados, incapaz de atuar em favor de um povo oprimido.

O retorno do Talibã e de sua política opressora é resultado de um erro de cálculo dos Estados Unidos e do completo fracasso em treinar as forças de segurança do Afeganistão, que, por sua vez, viram-se incapazes de rastrear os fundamentalistas e impedir que se aproximassem de Cabul. A debandada das tropas norte-americanas do território afegão foi a licença para que os milicianos islâmicos se empoderassem.

Nos últimos dois anos, entrevistei mulheres afegãs e lideranças do Talibã. Enquanto elas deixavam transparecer um óbvio medo, os talibãs recorriam ao islã para justificar o injustificável. Diziam seguir à risca e serem fiéis aos preceitos do Corão, sem reconhecer que seu fanatismo religioso soa como pesadelo para grande parte da população.

Em 10 de maio de 2022, Mohammad Suhail Shaheen, chefe do Escritório Político do Talibã em Doha (Catar) e ex-porta-voz do grupo, disse ao Correio que as mulheres usam o hijab (véu islâmico) de forma voluntária. "Estamos comprometidos com todos os direitos básicos das mulheres, como temos falado por várias vezes; e eles serão respeitados", garantiu, sem citar exemplos de tal compromisso.

A comunidade internacional precisa pressionar o Afeganistão a reverter todas as medidas opressoras contra as mulheres. Não se trata de violação à soberania, mas questão de sobrevivência delas. Nenhuma mulher deve ser silenciada, sufocada, tolhida de seus direitos e de uma vida digna. Que o mundo abra os olhos em direção a elas.

 


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