Onde tem floresta em pé, tem mulher; e onde tem mulher, tem floresta em pé!" Essa máxima resume a relação que existe entre nós — mulheres indígenas, quilombolas, extrativistas e representantes de outras comunidades tradicionais — e a preservação ambiental. Temos um cuidado especial com a natureza, plantando e preservando árvores, cuidando dos bichos e das águas, para garantir a continuidade da floresta e da nossa própria existência.
Pertencemos a grupos culturalmente diferenciados, com formas próprias de organização social, religiosa e econômica, mas, em comum, usamos conhecimentos, inovações e práticas geradas e transmitidas por uma tradição ancestral. Os locais onde vivemos são os mais bem conservados do planeta, pois compreendemos a importância das nossas ações na nossa qualidade de vida e na dos que vierem depois de nós. Neste 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-americana e Caribenha, é tempo de lembrar da luta feminista por trás do desenvolvimento ambiental sustentável. Nosso ponto de partida é a condição de anonimato a que as mulheres estão submetidas.
Mesmo onde o direito coletivo à terra é reconhecido, a governança é predominantemente masculina. Quando governos ou empresas envolvem as comunidades para discutir potenciais impactos, as negociações tendem a excluir o público feminino. Ora, temos um papel fundamental sobre o uso dos recursos naturais disponíveis. As florestas, as nascentes, a fauna e os cultivos não são meros insumos ou commodities nas nossas mãos guardiãs. Estamos na linha de frente da preservação ambiental e dos direitos humanos nessas localidades. Mas nosso trabalho é pouco reconhecido.
A desigualdade na posse da terra, no acesso e no controle dos recursos naturais é um problema social multifacetado, que tanto permite muitas terras na mão de poucos, quanto favorece a discriminação de gênero, raça, etnia e cultura nesses territórios. Para nós, o acesso à terra tem significados que vão muito além do aspecto material. O lugar onde vivemos abrange o pertencimento cultural e religioso, o bem-estar das famílias e a luta pela preservação dos nossos valores.
Para jogar luz sobre esses esforços, lançamos hoje a campanha "Tem floresta em Pé, Tem Mulher", um projeto cocriado pela Oxfam Brasil com organizações que representam populações tradicionais, como a Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq), o Conselho Nacional das Populações Extrativistas CNS e Movimento Interestadual de Mulheres Quebradeiras de Coco Babaçu ( MIQCB).
Tratam-se de ações digitais para dar visibilidade ao trabalho assumido historicamente pelas mulheres na proteção do meio ambiente, na luta por justiça climática e de gênero, chamando a sociedade para também defender os direitos comunitários dos povos tradicionais. Com a divulgação das nossas realidades, queremos aumentar a influência feminina tanto nas nossas comunidades como em âmbito nacional. Precisamos instigar, relatar e influenciar a sociedade civil neste movimento de reconhecer e valorizar nosso papel como defensoras da floresta e como promotoras de uma relação harmoniosa com a natureza, já que isso é essencial para a preservação ambiental e a justiça social. Nossas histórias e lutas demonstram a importância de uma abordagem inclusiva, antirracista e feminista na busca por uma distribuição mais equitativa da terra, dos recursos naturais e na mitigação dos impactos das mudanças climáticas.
Érica Monteiro — Coordenadora nacional na Conaq (Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos)
Dona Nice — Secretária de Mulheres do CNS (Conselho Nacional das Populações Extrativistas)
Maria Alaides — Coordenadora geral da MIQCB (Movimento Interestadual de Mulheres Quebradeiras De Coco Babaçu)
Bárbara Barboza — Coordenadora de Justiça Racial e de Gênero na Oxfam Brasil
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