Antes mesmo de tomar posse, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva definiu como prioridade reconstruir o papel de liderança do Brasil em países internacionais e nas principais agendas da geopolítica mundial. Viajou à China e aos Estados Unidos — dois dos três principais parceiros comerciais do país — para destravar o diálogo obstruído pela posição ideológica do ex-presidente, Jair Bolsonaro.
Nos últimos quatro anos, o protagonismo brasileiro desapareceu. Em diferentes eventos internacionais, quem representou a América do Sul foi Chile, Colômbia ou Argentina. A viagem do presidente Lula à China em março, por exemplo, estava ligada à tentativa de o Brasil recuperar protagonismo nas relações internacionais, área que foi negligenciada durante o último governo, o que também refletiu dentro da posição do país dentro do Brics.
Além disso, em meio às tensões entre os países-membros, com Rússia em guerra e rusgas entre Índia e China, um dos objetivos do governo Lula é contribuir para retomar a relevância do bloco. Lula considera que a reforma do sistema internacional é urgente e que o impasse na ampliação do Conselho aprofunda a crise de confiança no mundo. Em contrapartida, em quase sete meses de governo, o presidente ficou mais tempo fora do país do que viajando pelo Brasil.
Em fevereiro, Lula disse em uma entrevista que pretendia convidar o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, para visitar as cidades mais precárias do país ao seu lado. O que não ocorreu, até o momento. Recentemente, Lula recebeu, em Brasília, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro e disse que a Venezuela "precisa mostrar sua narrativa" para fazer o mundo mudar de opinião sobre a política no país. No dia seguinte, o presidente do Uruguai, Luis Lacalle.
Pou afirmou que ficou surpreso ao ouvir que as acusações de ditadura da Venezuela eram "narrativas", sem citar o nome de Lula. O discurso foi decepcionante e tirou o foco da cúpula que reúne presidentes de 11 países da América do Sul em Brasília. O dia era dedicado a uma interessante iniciativa do governo brasileiro de reunir os vizinhos sul-americanos, mas em razão de um discurso antiquado do presidente, o Brasil está até hoje repercutindo em reportagens sem nexo. É preciso ressaltar que "não existe ditadura boa".
De qualquer forma, o atual governo planeja transformar a Amazônia em instrumento geopolítico, reposicionando o Brasil na região e no mundo, buscando um novo protagonismo. É nítido e evidente que será apenas com a redução do desmatamento que o país poderá recuperar sua credibilidade internacional. Aos poucos, é o Brasil de Lula voltando à liderança internacional em temas importantes, que podem gerar investimento do exterior e prestígio.
Rodrigo Reis - Internacionalista e fundado
Saiba Mais
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br