A natureza cobra seu preço. Muitas vezes, a fatura vem alta demais. Nos últimos dias, regiões do Hemisfério Norte registraram temperaturas históricas. No Oriente Médio, elas chegaram a 66 graus, o limite para a sobrevivência do ser humano. Em Death Valley, na Califórnia, os termômetros marcaram, na madrugada de ontem, 49 graus Celsius. A ilha italiana de Sardenha enfrentou 46 graus, enquanto a Espanha lidava com máxima de 44 graus.
A onda de calor mais rigorosa de todos os tempos está longe de ser acidental. Nas últimas décadas, cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) fizeram uma série de advertências e emitiram relatórios com projeções sobre o aumento médio das temperaturas globais. Estamos próximos do chamado "ponto sem retorno", um cenário em que qualquer possibilidade de mitigação ou de reversão do fenômeno se tornará impossível.
Nas últimas três décadas, líderes mundiais se reuniram em conferências do clima e do meio ambiente para traçarem estratégias e delimitarem objetivos a médio e longo prazos. Aparentemente, a ganância e a cobiça têm minado os compromissos com a preservação das florestas e a redução da emissão de poluentes.
O fracasso das maiores economias do planeta em cumprir com as metas e reduzir o impacto das mudanças climáticas começa a surtir consequências funestas. No último sábado, uma fotografia de autoria de Rebecca Noble, da agência France-Presse, parece simbolizar o fracasso da humanidade em lidar com o problema: um corpo abandonado em um jardim de Tucson, no estado do Arizona, coberto por uma lona amarela. De uma vítima do calor extremo, de 39 graus Celsius.
Um dos biólogos mais importantes do século 20, o britânico James Lovelock teorizou a "Hipótese de Gaia" — segundo a qual, a Terra se comporta como um organismo vivo, capaz de obter energia para seu funcionamento, à medida que autorregula a temperatura e o clima. Ao interferirmos no equilíbrio de Gaia ("Mãe-Terra", na mitologia grega), colocamos em risco a nossa própria existência.
Desde 1981, a taxa de aquecimento do planeta tem sido duas vezes mais rápida do que se registrava: 0,18 grau Celsius por década. Até então, essa taxa ficava em 0,08 grau. O calor extremo costuma vir acompanhado de degelo de icebergs e de picos nevados, chuvas cada vez mais intensas e extinção de plantas e de animais.
Precisamos agir o quanto antes e cumprir com os compromissos firmados nas cúpulas do clima e nas convenções da ONU. Que façamos isso não apenas por nós, mas pelas gerações seguintes. Gaia clama por socorro. É preciso agir, antes que seja tarde demais.
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