NULL
LGBTQIA+

Artigo: A sutileza que se perdeu

Chefes de Estado, líderes religiosos e personalidades da mídia disparam despautérios e impropérios, sem pudor, abusando da autoridade e da influência que exercem para que fakes news e injúrias repulsivas sejam destiladas e despertem em seus seguidores atos macabros

Nesta foto de arquivo tirada em 06 de julho de 2019, as pessoas marcham com as cores do arco-íris do prédio do parlamento no centro de Budapeste durante a Parada do Orgulho de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT) na capital húngara. Um livro de histórias causou um debate público na Hungria entre os políticos, pois a coleção está sendo sobre contos bem conhecidos, mas os personagens principais do livro são provenientes de minorias marginalizadas e desfavorecidas, incluindo a comunidade LGBT. Foi publicado por uma associação lésbica húngara. -  (crédito: AFP / ATTILA KISBENEDEK)
Nesta foto de arquivo tirada em 06 de julho de 2019, as pessoas marcham com as cores do arco-íris do prédio do parlamento no centro de Budapeste durante a Parada do Orgulho de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT) na capital húngara. Um livro de histórias causou um debate público na Hungria entre os políticos, pois a coleção está sendo sobre contos bem conhecidos, mas os personagens principais do livro são provenientes de minorias marginalizadas e desfavorecidas, incluindo a comunidade LGBT. Foi publicado por uma associação lésbica húngara. - (crédito: AFP / ATTILA KISBENEDEK)
postado em 06/07/2023 06:00

O mundo anda apressado, objetivo e rude demais. Na virada do milênio, a tecnologia invadiu nossas vidas, sem bater, metendo o pé na porta com vontade, dispensando um pedido de licença, entrando com uma urgência ríspida de quem sugere promover um salvamento de emergência. Não nos dedicamos mais ao prazer de acompanhar uma novela do começo ao fim, degustando cada capítulo como se convivêssemos diariamente com aqueles personagens. Estamos na era das manchetes rápidas e das zapeadas superficiais nos diversos títulos disponíveis nas plataformas on-line. Hoje, tudo é feito de forma rasa. Nós nos perdemos das sutilezas.

A arte de ser sutil está na habilidade de fazer algo discreto, leve, difícil de ser percebido ao primeiro olhar, mas que representa um refinamento que aprofunda o todo. Está no gesto singelo de se cumprimentar alguém com um "bom dia", perguntar "como vai?", solicitar algo com um "por favor", agradecer com um "muito obrigado" e até utilizar um ponto ao final de uma frase. A sutileza é o sentimento que não precisa ser explícito, algo que no storytelling se caracteriza como acionar um gatilho mental — sabe aquelas mensagens subliminares que ativam um mecanismo no cérebro para que sintamos algum desejo? O oposto do que vemos, hoje, nas líquidas redes sociais: Compre isto! Faça assim! Curta, comente e compartilhe! Me segue que eu te sigo!

Por outro lado, a sutileza também se perdeu para o mal. Nesses tempos bizarros, o preconceito, a intolerância e o ódio não se disfarçam mais com suavidades. O discurso, agora, é direto, reto, curto, grosso. Chefes de Estado, líderes religiosos e personalidades da mídia disparam despautérios e impropérios, sem pudor, abusando da autoridade e da influência que exercem para que fakes news e injúrias repulsivas sejam destiladas e despertem em seus seguidores atos macabros, dos quais eles, os provocadores, se eximem quando são executados.

Tal qual fez, nesta semana, o tal pastor que insinuou, de forma nada tênue, que "Deus mataria os homossexuais se pudesse, mas delegou isso aos seus fiéis". Não se prima mais pela sutileza nem para cometer crimes! Por sorte, a Justiça também não é nada sutil. Ainda que a rotulem como cega, ela é implacável.

 


Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

-->