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Saúde

Artigo: O alto preço da obesidade

"Especialistas consideram que estamos vivendo uma epidemia, um problema de proporções gigantescas, com implicações nocivas para a sociedade, sistemas de saúde pública e privada e até mesmo para a economia"

Cirurgia bariátrica pode diminuir risco de câncer em pessoas com obesidade -  (crédito: Reprodução - Bruno/Germany por Pixabay)
Cirurgia bariátrica pode diminuir risco de câncer em pessoas com obesidade - (crédito: Reprodução - Bruno/Germany por Pixabay)
Antonio Martin
postado em 03/07/2023 03:55 / atualizado em 03/07/2023 17:53

Nas últimas décadas e de forma mais rápida depois da pandemia, o excesso de peso da população assume contornos alarmantes em nível planetário. A prevalência da obesidade vem crescendo em quase todo o mundo, com velocidade especialmente acelerada no Brasil. Especialistas consideram que estamos vivendo uma epidemia, um problema de proporções gigantescas, com implicações nocivas para a sociedade, sistemas de saúde pública e privada e até mesmo para a economia.

O Atlas Mundial da Obesidade de 2023 indica que mais da metade da população mundial estará com sobrepeso ou obesidade em 2035. No Brasil, a estimativa é de que 41% dos adultos ingressarão nesse grupo no mesmo período.

Outra pesquisa, publicada na revista científica BMJ Global Health, revela que o percentual de pessoas obesas ou com sobrepeso no Brasil deverá chegar a 88,1% em 2060, resultando em um impacto econômico de US$ 218,2 bilhões (mais de R$ 1 bilhão). A previsão é de que esse índice represente 4,66% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro também em 2060. Ainda de acordo com o estudo, o impacto econômico em nosso país será de US$ 220 milhões (R$ 1,3 trilhão), o décimo maior custo entre os 161 países estudados.

Vale lembrar que, além de doença multifatorial e complexa, a obesidade funciona como coeficiente de risco. Fora os malefícios diretos provocados pelo excesso de gordura, a doença potencializa o surgimento de outras complicações, como diabetes tipo 2, câncer, pressão alta, danos cardiovasculares e problemas na coluna e articulações.

As consequências nefastas da obesidade na economia não se limitam aos elevados custos médicos, mas incluem outros gastos indiretos e sociais: diminuição da qualidade de vida, depressão, perda de produtividade, aposentadorias por incapacitação e óbitos precoces.

No Brasil, estudo da USP mostra que os custos diretos com tratamentos ambulatoriais e hospitalares de aproximadamente 30 doenças estão relacionados ao excesso de peso e à obesidade. O resultado mostrou que dos R$ 6 bilhões utilizados em 2019, com tratamento de doenças crônicas, aproximadamente 22% (ou R$ 1,5 bilhão) foram atribuídos ao excesso de peso e à obesidade.

Com o conhecimento dos custos relacionados à obesidade, análises econômicas podem ser realizadas para ajudar gestores e formuladores de diretrizes a compreender melhor a dimensão do problema e — na minha visão, o mais importante — traçar estratégias que melhorem o acesso não só aos tratamentos, mas principalmente às políticas de prevenção. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) assegura que uma alimentação inadequada no ambiente de trabalho pode reduzir em até 20% a produtividade e a eficiência dos colaboradores.

Diante desse cenário, o que fazer? É preciso, o quanto antes, priorizar e investir num conjunto de medidas que reduzam o avanço da doença, combatendo sua incidência já na raiz. Entre essas estratégias, estão medidas de incentivo à alimentação adequada e saudável e à prática de atividades físicas, gerando maior bem-estar e qualidade de vida, além de contribuir para o aumento da produtividade. Precisamos fazer com que funcionários das empresas levem a sua casa e amigos hábitos saudáveis, se tornando multiplicadores de boas práticas. Trabalhadores felizes produzem melhor e se sentem mais felizes, contribuindo para um ambiente laboral igualmente baseado no bem-estar e no colaboracionismo.

Uma análise rápida já deixa claro que os números dizem muito sobre os nossos atuais hábitos cotidianos: consumo desmedido de alimentos ultraprocessados, ricos em sal, gordura e açúcares, e sedentarismo. Além do mais, a pressa nos leva a engolir os alimentos e reduzir o consumo de água.

Creio que os resultados serão muito mais rápidos e eficazes se trabalharmos em conjunto: setor privado, poder público, entidades e sociedade em geral. Uma ampla parceria que estimule alimentação adequada e a prática de atividades físicas. Espaços de convivência em áreas abertas — como em praças, praias e parques — podem ser equipados com estações adequadas à prática de exercícios físicos, como já acontece no Rio de Janeiro e em São Paulo, para citar apenas duas cidades do nosso continental país.

Está na hora de formular uma cultura alimentar de qualidade. Um bom começo é adotar nas empresas o Guia alimentar para a população brasileira, produzido pelo Ministério da Saúde. No texto, há indicações de alimentos in natura ou minimamente processados, a chamada comida de verdade.

Ambientes escolares e de trabalho também podem incentivar hábitos saudáveis por meio da estrutura física oferecendo lugares apropriados para as pessoas fazerem as refeições. No âmbito da atividade física, é importante pensar e instalar ambientes urbanos que favoreçam a prática. Estamos falando de ciclovias, parques, calçadas adequadas e quadras públicas, por exemplo.

Não podemos perder de vista também que saúde é uma questão de educação. Se ensinarmos desde cedo a nossas crianças e adolescentes que a alimentação equilibrada evita uma série de problemas vindouros, estaremos construindo um novo futuro para as próximas gerações.

Antonio Martin, CEO da RHMED|RHVIDA, é presidente da Associação de Gestão de Segurança e Saúde Ocupacional

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