A recente partida de Alysson Paolinelli, ex-ministro da Agricultura do Brasil e figura icônica no setor agropecuário, deixa uma lacuna profunda na história do país. Sua extraordinária trajetória é digna de reconhecimento e homenagem, pois ele foi muito mais do que um homem público e agrônomo renomado. Alysson Paolinelli personificou o significado dos grandes líderes, aqueles que transcendem as próprias realizações e deixam um legado duradouro.
A trajetória e as contribuições deixadas por Alysson Paolinelli são verdadeiramente imensuráveis. Desde seus dias como aluno, professor e diretor da Esal (Escola Superior de Agricultura de Lavras), até o período em que serviu como secretário da Agricultura de Minas Gerais e líder do Ministério da Agricultura entre 1974 e 1979, Paolinelli se destacou como exemplo inspirador de excelência, dedicação e responsabilidade, lembrando-nos de que a superação de desafios pode ser realizada com visão, determinação e compromisso incondicional com o bem comum.
Sob o comando de Paolinelli, nova história foi escrita para nossa agropecuária. O Brasil se tornou líder mundial em pesquisa e inovação para a produção de alimentos em condições tropicais e superou a insegurança alimentar em prazo recorde, tornando-se também um grande exportador. Sua visão abriu caminho para expandir de forma extraordinária os limites de nossa agricultura, com ampliação da eficiência de nossos cultivos tradicionais e adaptação aos trópicos de cultivos e criações dos quais apenas países de clima temperado podiam usufruir.
A revolução concebida e iniciada por Paolinelli promoveu no Brasil um salto na produção agropecuária que não teve paralelo em nenhuma outra região do mundo, considerando o curto espaço de tempo em que ocorreu. No início dos anos 1960, quando tínhamos uma população de cerca de 70 milhões de habitantes, o país colheu 17,2 milhões de toneladas de grãos, cultivando uma área de aproximadamente 22 milhões de hectares. Em 2023, o Brasil tem 203 milhões de habitantes e acaba de produzir uma safra recorde, de 305 milhões de toneladas de grãos em cerca de 76 milhões de hectares.
Com esses avanços em eficiência, a agricultura brasileira foi capaz de responder às demandas de uma população urbana crescente, oferecendo alimentos mais acessíveis e baratos, o que contribuiu para a redução das pressões inflacionárias e para o alívio das desigualdades sociais no país. Além disso, a produção crescente de excedentes para exportação gera divisas e contribui para a segurança alimentar de uma população mundial em crescimento, algo que Paolinelli não se cansava de destacar como uma contribuição essencial do Brasil para a busca da paz global.
A trajetória de Paolinelli guarda muitas semelhanças com a de outro agrônomo ilustre, Norman Borlaug, Prêmio Nobel da Paz em 1970 e principal responsável pela Revolução Verde. Essa revolução, que ocorreu na segunda metade do século 20, impulsionou a produção de alimentos por meio da introdução de variedades e práticas agrícolas modernas, eliminando o espectro da fome para milhões de pessoas em todo o mundo. Os dois se admiravam, e Borlaug não se cansava de exaltar, por onde passava, a Revolução Verde Brasileira liderada por Paolinelli.
Felizmente os feitos revolucionários de Alysson Paolinelli foram reconhecidos em vida e lhe renderam prestigiosos prêmios, como o Prêmio Mundial da Alimentação, considerado o Nobel da Agricultura, em 2006, além de inúmeras distinções nacionais e internacionais. Nos últimos anos, se dedicou de forma incansável à defesa da sustentabilidade e da segurança alimentar mundial, esforço que levou à sua indicação ao prêmio Nobel da Paz em 2021.
O legado de Alysson Paolinelli é um lembrete poderoso de que a liderança autêntica vai além do indivíduo e transcende as fronteiras do tempo. Ele nos inspirou a investir nas pessoas, a fortalecer as instituições e a criar uma base sólida para que outros líderes continuem o trabalho de transformação iniciado. Com sua visão de futuro, seu compromisso com o bem-estar coletivo e sua dedicação incansável, Alysson Paolinelli nos mostrou que os verdadeiros líderes são aqueles que trabalham arduamente para criar um futuro melhor, capacitando outros a seguir seus passos e garantindo que o legado de transformação perdure para as próximas gerações.
Ao homenagear Alysson Paolinelli, reconhecemos não apenas suas realizações pessoais, mas também seu papel como um catalisador de mudanças positivas e um guardião do futuro. Sua liderança inspiradora e legado duradouro nos lembram que os verdadeiros líderes transcendem seu tempo e deixam um impacto que ressoa nas gerações futuras. Que seu exemplo inspire os líderes atuais e futuros a seguirem seus passos e a trabalharem para um mundo melhor, onde as sementes plantadas hoje floresçam em um futuro próspero e sustentável para todos.
Maurício Antônio Lopes, Pesquisador, foi presidente da Embrapa
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