Em novembro de 2025, Belém, capital do Pará, sediará a 30ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP30). Os eventos climáticos extremos deixaram de ser previsões. Eles são realidade em todo o planeta. Causam secas intensas, temporais, tornados e tantos outros episódios dramáticos, com perdas de vidas e destruições de cidades. Atrasam o desenvolvimento socioeconômico do país e impõem gastos com a recuperação de áreas seriamente danificadas. Os esforços para evitar o aumento da temperatura terrestre têm sido insuficientes.
O agravamento do cenário deixa os jovens apreensivos em relação ao futuro, segundo pesquisa da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O estudo ouviu mais de 15 mil pessoas, por meio virtual, em 2020. A maioria (67%) se disse preocupada com as perdas da biodiversidade, "devido a questões como o aumento de desastres naturais e condições climáticas extremas".
Nesta semana, a Comissão de Legislação Participativa, da Frente Ambientalista da Câmara dos Deputados, debateu a construção de projeto de lei que institua o Programa Nacional de Educação Climática nas Escolas. A ideia é aprovar a nova lei antes da realização da COP30, no Brasil. Ante o aquecimento global, a comissão pretende reunir todos os projetos em tramitação no Congresso e elaborar uma proposta que contemple as diferentes sugestões, mantendo a orientação da Lei nº 9.795/1999, que dispõe sobre a educação ambiental nas escolas. Ou seja, a educação climática não será mais uma disciplina na grade curricular, mas deverá ser abordada em todas as matérias, preservando a ideia de transversalidade e interdisciplinaridade, como prevista na Lei nº 9.9795/99. Ou seja, "espalhar a questão ambiental em toda a formação dos alunos nos diferentes níveis de ensino", como defendeu Suely Araújo, que participou da elaboração da lei e, hoje, é conselheira do Observatório do Clima.
Para a presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Mercedes Bustamante, a educação climática deve não só abranger todas as disciplinas, mas, principalmente, envolver uma mudança de comportamento. Ela lembrou que a mudança é urgente. "O planeta está mais de 1ºC mais quente do que no período pré-industrial. Até o final do século, a previsão é atingir 2,7ºC a mais", alertou a presidente da Capes.
A maioria dos compromissos assumidos pelas nações para conter o aquecimento global, no Acordo de Paris, não foi cumprida. Poucos países deram passos rumo à transição para um modelo de economia verde. No Brasil, nos últimos seis anos, as políticas públicas foram alvo de retrocesso devido ao negacionismo em relação aos prejuízos causados pela mudança climática. O desmatamento avançou exponencialmente. Houve expansão das fronteiras agrícolas sobre áreas de proteção ambiental e terras dos povos originários e tradicionais. A mineração e a extração de madeiras ilegais também avançaram na Amazônia e no cerrado.
O ensino sobre as mudanças climáticas não deve ser restrito às crianças e aos jovens estudantes. Impõe-se que alcance os adultos, pois os fenômenos climáticos extremos não diferenciam jovens e velhos. Seus efeitos são dramáticos para toda a sociedade, o que exige do poder público celeridade na execução de políticas para recuperação do tempo perdido.