Não respeitar a regra do jogo, essa parece ser a regra motriz atualmente. Principalmente, quando esses preceitos ameaçam impedir a gastança sem lastro e o populismo irresponsável com o dinheiro dos pagadores de impostos. Diante da incapacidade legal de mudar agora o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, um técnico em finanças altamente gabaritado e, por isso, respeitado dentro e fora da instituição, os governistas, com assento no Congresso, buscam, freneticamente, derrubá-lo por qualquer meio ou deslize. Obviamente, sonham em colocar no lugar um "estraga prazeres", alguém que possa compactuar com os delírios econômicos que tivemos como aperitivo.
Mesmo antes das eleições, Lula estava leiloando a cabeça de Campos Neto, pois via neste economista um forte empecilho para a implementar um plano econômico que, diga-se de passagem, não foi apresentado à nação. Em termos de economia, entre a cabeça do presidente da República e a do presidente do Banco Central, parte daqueles que conhecem o passado de gastança preferem não apostar no caos. A permanência de Campos Neto é fundamental como condutor nesse caminho pedregoso.
Aqueles que acompanham os gráficos econômicos e oscilantes do país sabem, muito bem, que sem responsabilidade contábil o passado de caos voltará com carga máxima. Para os que têm memória, isso é tudo o que não pode voltar a acontecer. A base governista que está se lixando para coisas, como metas de inflação e outros elementos da economia, pede o afastamento do presidente do BC, por motivos que vão desde seu "comprovado e recorrente desempenho insuficiente para alcance dos objetivos da instituição" até sua "persistência em manter injustificadamente as taxas de juros, comprometendo a economia do país". O que essa base governista não diz é que essa é uma ordem expressa vinda do Palácio do Planalto para colocar na rua "esse cidadão que ninguém sabe quem botou lá" e que está "lesando o povo brasileiro".
A oposição que deveria trabalhar para impedir essa demissão não fala. Campos Neto, goste-se ou não de sua atuação, representa o último bastião de resistência aos desatinos e improvisos do governo Lula no âmbito da economia.
No campo político, a gente já sabe: estão cassando, via Tribunal Superior Eleitoral (TSE), um a um os parlamentares de direita e quem se propõe a fazer oposição ao atual governo. No campo econômico e na cabeça do atual mandatário, a questão principal não é a taxa Selic, mas a barreira apresentada pela atual política de juros do Banco Central, que impede o gasto além das receitas e o retorno do populismo na economia.
Lula deveria perguntar ao seu colega da Argentina, o que ele fez com a economia daquele país, para estar, pela quinta vez, de pires na mão, pedindo socorro ao Brasil. Algum assessor tem que se imbuir de coragem e dizer a Lula que Alberto Fernández, que lembra muito o personagem de Péricles, "o amigo da onça", que ele é hoje o que virá a ser Lula amanhã.