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Visão do Correio: Contra a violência nos estádios

Não dá para esperar que uma tragédia ocorra para tomar providências, como na Inglaterra nos anos 1980 com os torcedores ingleses, conhecidos como hooligans

O futebol é uma paixão nacional e, muitas vezes, palco para a catarse dos problemas que afligem os brasileiros no dia a dia. Não há dúvida quanto a isso, mas, cada vez mais, o esporte bretão tem se tornado espaço para violência, seja nas arquibancadas, seja nas invasões de centros de treinamento e ameaças a jogadores e treinadores, com atitudes intimidadoras. É preciso conter manifestações de violência. Há muito dinheiro e milhões de brasileiros envolvidos com a prática desse esporte no país, que tornou o Brasil um dos maiores campeões do mundo, brilho que vem perdendo em competições diante de adversários internacionais.

Episódios como os verificados na partida entre Santos e Corinthians, na Vila Belmiro, em São Paulo, e no jogo entre Vasco e Goiás, em São Januário, no Rio de Janeiro, com torcidas organizadas atirando sinalizadores contra adversários, arrancando cadeiras da arquibancada para arremessar no campo, briga entre torcedores e confronto com a polícia não são, infelizmente, novidades no futebol brasileiro. E, mais uma vez, a punição parece branda e insuficiente para coibir novos atos. Vasco e Santos, mandantes das partidas da semana passada, jogam agora sem torcida, deixam de faturar com bilheteria, mas não perdem direito de imagem. Os torcedores ficam impedidos de ver seu clube no campo, mas não deixam de assistir pela TV. E os verdadeiros responsáveis pelos atos de selvageria ficam impunes ao receberem a mesma punição que os demais torcedores.

É preciso que clubes revejam a relação que mantêm com suas torcidas organizadas e as autoridades assumam que não é possível considerar que sejam atos isolados. Não dá para esperar que uma tragédia ocorra para tomar providências, como na Inglaterra nos anos 1980 com os torcedores ingleses, conhecidos como hooligans. Em 1985, um confronto entre eles e italianos, na final da Liga dos Campeões da Europa, entre Liverpool e Juventus, deixou 39 mortos e cerca de 450 feridos. Os clubes ingleses foram proibidos de participar de competições internacionais por cinco anos. Pareceu pouco. Em 1989, em um jogo do campeonato inglês, entre Liverpool e Nottingham Forest, a superlotação de um espaço cercado provocou a morte de 96 pessoas por esmagamento e deixou outros 766 feridos, num dos maiores desastres do futebol mundial.

Para impedir novas ocorrências, o governo de Margaret Thatcher, então primeira-ministra, decidiu proibir o consumo de bebidas nas dependências dos estádios e determinou a transformação da conduta desordeira nos estádios e arredores em crime, além de obrigar a adoção de cadeiras numeradas nos estádios e o aumento do valor dos ingressos. O resultado salta aos olhos com o campeonato inglês sendo considerado hoje um dos melhores do mundo. Nem de longe imaginamos que no Brasil se chegue ao grau de violência promovido pelos hooligans, mas não se pode esperar por isso. É nesse sentido que é preciso agir para evitar que ocorrências esporádicas não se tornem prática comum, elevando o grau de violência pela omissão das autoridades.

Ainda que não exista correlação direta, foi a partir do fim da violência nos estádios que o futebol inglês passou a se destacar. Quem sabe, trazendo o exemplo de medidas adotadas lá, o Brasil comece a dar nova estrutura para os clubes e suas torcidas de forma a eliminar a ação de bandidos travestidos de torcedores, que, em lugar de apoiar seus times nos momentos mais difíceis, partem para as agressões. É preciso identificar e punir esses vândalos que transformam em batalha a atitude de torcer.

 


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